Há anos que penso nesta história como uma das minhas favoritas de todos os tempos. Porquê? Tenho vários argumentos e muitas suspeitas sobre os motivos…
A minha cópia deste livro é de 2002, a 19ª edição. Não sei precisar quando o li pela primeira vez, mas foi, claramente, a seguir a 2002. Li-o nos meus 20’s e cativou-me desde a primeira página, quando comecei a perguntar-me para onde poderia ir uma história destas.
Qual a razão pela qual um livro escrito por um homem, sobre um homem que nada tem a ver comigo, me pode ter cativado tanto nos meus 20’s?
Luis Sepúlveda, nascido em 1949, no Chile, faleceu a 16 de Abril de 2020 em Espanha, o seu país de exílio. Após a sua mais controversa passagem por Portugal, já manifestando sintomas deste merda-vírus (Covid-19), do qual acaba por ser vítima. Sepúlveda deixa-nos uma obra feita de experiências, e visões sociais, influenciadas pela política e por vidas cheia de duras provações.
Ainda não li todos os livros de Sepúlveda e, apesar de desejar fazê-lo, não posso garantir que o farei. Isto porque não tenho parcerias com editoras que oferecem livros e os preços destes meninos não baixam.
Pelo que conheço, a obra de Sepúlveda é tão distinta, entre si, como só a de um grande escritor pode ser. Influenciado por uma cultura (a sua de proveniência) sul-americana tão diversa, colorida e rica, como o gigantesco continente americano pode ser. Sepúlveda trouxe consigo uma vivência de povo explorado pelo poder, cultura dessacralizada, ditadura asfixiante, natureza marcante e injustiças sofridas por todos os seres.
Um pequeno à parte aqui: sobre a disparidade e diversidade dos países da Cordilheira dos Andes procurem o documentário ‘A magia dos Andes’ na Netflix. Vale a pena ver…
‘O Velho que lia Romances de Amor’ é uma história feita de presas e predadores; Da importância de aprender a viver num mundo natural que não funciona com as regras que os Homens lhe querem impôr; A recusa destes em serem domados pela selva e pelos animais; O medir forças entre Homem e Natureza.
António José Bolívar Proano, a personagem principal, surpreende-nos a cada curva da história. Começando pelo gosto em ler histórias de amor. Um caçador, aculturado pelos Xuar à vivência na selva, entregue à vida natural em liberdade… que lê e prefere histórias de amor.
A forma como esta personagem usa os livros, para continuar a aprender a viver num mundo que é estranho para ele, é uma lição de vida para nós. Assim como a vivência em comunhão com a Natureza pode significar coisas tão diferentes para os povos que nela habitam.
Há uma imagem tão definida e própria desta história, com uma beleza crua e singela e, em simultâneo, complexa e brutal, que nos cativa logo desde o início. A estranheza das suas vivências, e a sensação de paz obtida, se aprendermos a viver em comunhão com um mundo que não sobrevive de outra forma.
A mestria de Sepúlveda adensa-se quando sentimos as gotas de suor a escorrer em bica pelo rosto gordo de um homem odioso. Porque, como escritor, Sepúlveda tem o poder de nos Mostrar a experiência de viver esta história.
Somos a presa aterrorizada pela proximidade do perigo invisível. Pisamos o solo descalços porque reconhecemos a sensação de um par de botas enterradas no lodo. Amamos a floresta e desejamos respeitá-la. Aprendemos os perigos com cada pormenor que nos é revelado…
Acima de tudo, acredito que é a mestria com que Sepúlveda nos coloca, a nós leitores, a viver uma história de uma forma sensorial. Construindo, aos poucos, uma realidade tão colorida, mais do que aquela que temos na cidade… mais perigosa, também. E, tão rica que só nos podemos apaixonar por ela.
Reli-a, em espécie de homenagem privada, no dia em que Luis Sepúlveda nos deixou. Foi o meu tributo possível à vida e obra deste autor. Combino, agora, com este artigo que tardei a escrever. Uma homenagem sentida ao escritor que nos legou histórias marcantes sobre este nosso mundo dos Homens e da Natureza.
Este mundo que nos rodeia e, mesmo que insistamos em viver emocionalmente separados dele, é profícuo em ensinar-nos que existe e que estamos sujeitos à convivência… como podemos atestar com este vírus. Assim como, quando amamos algo, o melhor que podemos fazer é deixá-la viver nos termos que ela escolhe viver. Não há controlo possível sobre certas coisas do mundo natural.
Sepúlveda deixa-nos uma série de mensagens, que muito me dizem (como estas aqui…) e, sei porque continuarei a considerar esta história como uma das minhas favoritas de todos os tempos… Até ao Infinito e Mais Além.
Porque tardei tanto a escrever uma opinião? Acho que aguardei a maturidade para o entender de outras formas. Algo que, sem dúvida, vem com o tempo, com a vida, com o sofrimento. O que retirei desta obra aos 20, e o que retiro dela aos 40, é incomparável.
Mas, sem querer adagiar a idade, e a maturidade, e essas coisas todas que soam a floreados metafóricos, ‘O Velho que lia Romances de Amor’ conquistou-me em nova e reconquistou-me agora.
Este livro é um presente que Luis Sepúlveda nos deixou.
Obrigada e até qualquer dia.
Aos meus leitores:
Boa noite, ou Bom dia!
Lendo o livro ,”Preconceito contra o Analfabeto”, há uma referência sobre o livro do Sepúlveda. Pedi o livro pela Amazon. Esse foi o motivo pelo qual li seu blog. Fiquei emocionada com tanta sensibilidade e lhe agradeço. Nesse mundo tão estranho, o que li é uma carícia para alma.Belíssima homenagem ao escritor.
Continue assim!
Olá, Maria.
Obrigada pelo seu comentário. Gostei muito de ler as suas palavras. Quanto ao artigo, foi uma homenagem sentida.
Até Breve!