Não nutro nenhum gosto particular por obras condensadas, edições comprimidas, ou livros feitos de um excerto de obra.
Aliás, fujo dessas edições como se fosse perseguida por um cão feroz… e, isto é dizer muito. Acreditem!

No entanto, há algumas edições que servem para testar uma obra e, experimentar uma espécie de aperitivo, antes de consumir o prato.
Quando encontrei uma edição deste tipo, de uma editora de prestígio, no contexto de um livro sobre o qual tenho alguma curiosidade há imenso tempo, o que fiz eu? Experimentei…

Não sei se pensei assim tanto sobre o assunto, após o sucesso com a obra de Rainer Maria Rilke, ‘Letters to a Young Poet’ (sobre o qual podem ler a minha opinião aqui…), nesta mesma colecção de clássicos…

Assim, quando me cruzei com “It was snowing butterflies” de Charles Darwin, excerto de “The Voyage of the Beagle”, publicado pela primeira vez em 1839, não resisti.

Algumas coisas, nesta obra, suscitaram um deslumbre quase infantil ao lê-lo. Como se estivesse a experienciar uma coisa pela primeira vez… Mas, não confundam este sentimento. Não achei que fosse uma obra fácil de ler. Pelo contrário.
Primeiro, precisamos calçar os sapatos daqueles que pouco sabem sobre o mundo natural que os rodeia. Numa época em que se começava a procurar desvendar alguns significados sobre o mundo natural, em territórios inóspitos, pouco habitados e, mesmo, perigosos.

Depois juntei a minha curiosidade sobre a Patagónia e muito do que rodeia essa cordilheira e o seu aspecto natural ao longo dos tempos. Apesar deste aperitivo não ser uma obra para grande detalhe, ilustrou com mestria o aspecto deslumbrante de algumas paisagens, as diferenças abismais na natureza selvagem da época, e as dificuldades associadas à exploração geográfica de territórios estranhos.

Outro aspecto que me cativou foi a quantidade de descobertas que uma viagem deste tipo encetava naquela época. A dureza das condições que enfrentavam. A estranheza que os comportamentos dos animais, os hábitos dos povos locais e a existência de certas plantas colocavam.

Portanto, todo um mundo novo que se abria perante a coragem de homens que desbravavam territórios desconhecidos.
Somos levados à descoberta. Guiados através do olhar de um homem, que não procura poetizar o aspecto das descobertas efectuadas, mas relatá-las de uma forma tão real que se transforma na sua beleza. Notamos a sua forma curiosa e cautelosa em olhar para o que o rodeia sem querer retirar daí as regras e grandes ilações.

Um aperitivo que me deixou cheia de vontade de ler “Voyage of the Beagle“… espero, um dia, cruzar-me com ele.