Um livro que adoptamos nunca é só um livro que trazemos para casa. Um livro que compramos nunca é só um livro para encher uma estante. Um livro que lemos nunca é só uma história com que estamos em contacto.
“Never Let Me Go”, de Kazuo Ishiguro, veio da Feira do Livro de 2021, do lado dos alfarrabistas, com direito a anotações a lápis e tudo [inserir emoji com olhinhos em coração].
Foi o único livro que comprei para mim, na Feira do Livro de 2021, por motivos que não interessam nada para esta partilha, e tem sido um bom companheiro desde aí.
Podia alegar que sabia o que comprava. Não sabia. Olhei para o título, o nome do autor dizia-me qualquer coisa (que não consegui recuperar logo), e a referência a ser escolhido como um dos finalistas do The Man Booker Prize de 2005… e, o preço.
Na minha incessante busca por ler os livros que se manifestam nas alturas certas da minha vida, e a crescente vontade de diversificar (e intensificar) as minhas leituras, “Never Let Me Go” pareceu-me a escolha certa.
E, foi a escolha certa.
Adorei esta história. Acompanhou-me, durante várias semanas, de forma doce mas pungente. Ilustrou temas que nunca cessam de me envolver como a profundidade do desrespeito pela vida humana, ou o desinteresse maldoso pela vida das crianças, ou como é fácil seguir o rebanho quando são os lobos que mandam… ou qualquer coisa assim.
Kathy H., uma cuidadora de outros, leva-nos numa viagem pelas suas memórias de infância em Hailsham, pelas suas histórias com os seus amigos, pela aceitação inquestionável da realidade em que vive.
Inteligente e inocente em igual medida, Kathy é a heroína de uma história que não tem heróis, que não se reinventa em grandes momentos de reviravolta emocional, mas que é uma história que nos faz acreditar que, tendo em conta as tendências da natureza humana, tem tudo para que pudesse ser real.
Acompanhem, nos momentos certos, com a música que fornece o título a esta história.
Esta é a mestria de Ishiguro: a história tem tudo para que pudesse ser real.
Faz-nos questionar o que faz de nós humanos. O que somos capazes de fazer em proveito próprio. O profundo desrespeito pela vida humana. E, fá-lo de uma forma tão natural, tão emocionalmente envolvente e desdramatizada, confiando que o leitor chegará aos temas mais importantes por si próprio.
Peculiar e abstracta, o autor usa a linguagem, a emoção e a própria construção da história de forma simples e incisiva. Faz-nos colocar as questões mais básicas. Coloca-nos a ponderar possibilidades e procurar pistas para o que pode estar a acontecer, de facto, nos bastidores daquilo que nos é contado através da experiência de Kathy.
As sombras que existem pelo livro fora contam tanto, ou mais, do que as memórias que são trazidas para a luz e racionalizadas perante nós.
O final traz-nos uma série de constatações lógicas mas simples, sempre simples, de uma forma quase infantil. Traz-nos o choque da descoberta entregue da forma mais serena possível. Traz-nos as perguntas que se repetem muito após terminarmos a sua leitura.
Sobre a minha opinião…
Não ia opinar sobre este livro ou, achei que não o faria. O seu desfecho tornou impossível não o fazer.
Dei quatro estrelas a esta história… e, estou em conflito comigo sem saber porque retive a quinta. Fi-lo porque não me percebi tão envolvida na história como, de facto, estive/estou. Retive a quinta estrela porque não me envolveu de formas a que estou acostumada… mas, também isto, é um elogio.
Começo a odiar este sistema de catalogação de Gostos. Gosto, mas depois comparo a outros e pergunto-me: Gostei menos ou mais? Diz-me menos ou mais? Reconheço-lhe o que me cativa num livro? Dou-lhe menos ou mais?
É mais que sabido que o problema reside na Comparação… enfim.
… Entretanto, revi a classificação e atribuí a Quinta Estrela. Vale as 5 estrelas.
Deixo a sugestão de leitura. Aconselho. Depois, digam-me o que acharam do assunto… ou se têm outras sugestões literárias…
Entretanto,