[pausa de domingo] os “quês” de planear o que se aproxima

planear

Nunca ninguém disse: “Vamos fazer um plano porque temos a certeza da sua concretização com sucesso absoluto!“… se disseram, no fim encontraram um “Não!

***Aviso: Tenho umas perguntinhas para vocês no final deste artigo…***

Não faltam exemplos que provam que o “Não” era o final mais certo, logo à partida. Até construímos toda uma área de conhecimentos sobre isto, chamada Gestão de Projectos, em que uma grande parte é dedicada a identificar e resolver as falhas que se esperam, e aquelas que não se podem prever, no plano.

Somos mais do género… “Chiu! Temos um plano“…

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Imagem do livro “Chiu! Temos um plano” de Chris Haughton

Parece que não conseguimos compreender a necessidade de um plano e aquele que será o seu destino, quase certo, de falhar.

Pessoalmente, sei que tenho a mania de me atirar de cabeça, sem identificar com exactidão quais serão as reais exigências destes, apenas para os ver falhar.

Sinto-me falhar assim que os planos começam a não funcionar porque, por algum motivo, subestimei e/ou sobrestimei as minhas capacidades e/ou responsabilidades.

Este é um dos motivos pelos quais sinto tão grande relutância em planear a longo prazo. Penso sempre “Como raio sei se ainda ando cá nessa altura?” o que, como devem calcular, é um grande desmotivador para planear.

Outra coisa que penso é “Tento antecipar algo, planear para ele, e é meio caminho andado para não acontecer…” logo, é tempo perdido em algo que não consigo fazer acontecer. A chamada ironia do destino (ou profecia auto-concretizada?).

E, ainda, penso amiúde que “Vou planear algo apenas para olhar para o plano e constatar que não me apetece fazer o que está no dito“, ou comer, como pode ser o caso nesta minha mais recente aventura de planeamento.

E, é neste momento que, chego à experiência que me serve de exemplo positivo neste assunto e, que tenho esperança, sirva de impulso para aceitar os meus planos: cozinhar.

Cozinhar exige planeamento. É preciso comprar ingredientes, saber o que as pessoas para quem cozinhamos gostam de comer, saber o que é preciso levar para comer fora de casa, e nas refeições que se fazem em casa, entre outras coisas do género… como garantir que temos as ferramentas necessárias para confeccionar um determinado prato.

Cozinho desde os doze anos, mais coisa menos coisa, e gosto de o fazer até ao ponto de inventar receitas. Doces ou salgadas, do dia-a-dia ou para ocasiões especiais. A parte que me aborrece é a necessidade de o fazer todos os dias, duas vezes por dia, ou algo do género.

Por muitos anos, a lista de compras do supermercado reflectia mais ou menos o que era costume comermos num determinado espaço de tempo, com bastantes opções extra para mudarmos de opinião, se assim as vontades individuais o determinassem.

As desvantagens deste método?

Estragava-se uma quantidade considerável de alimentos frescos, porque estes pouco duram assim que saem do supermercado. Fruta e legumes sendo os principais afectados nesta cena de decomposição acelerada.

Planeava usar algo e, de repente, ia ao frigorífico e constatava que os coentros já tinham entregue a alma ao criador.

E, NÃO SE FAZ pico de galo SEM COENTROS!

Todos os dias tinha de gastar imensas quantidades de energia, a decidir o que cada um de nós comia, ou identificar o que tínhamos de levar para fora de casa, ou a preparar opções viáveis… muitas decisões a tomar para quem tem dificuldade em identificar o que ela própria quer, com a rapidez exigida.

Ou a opção de ser sempre a mesma coisa, que alivia na tomada de decisão, mas não alivia o enjoo natural, no fim de umas semanas disto.

Às tantas, a desmotivação que estas rotinas me trazem, impedem-me de apreciar até os actos nos quais costumava ter muito prazer.

Experimentar algo novo

Quando comprei a Yammi (com mais relutância do que gostaria de assumir) descobri que cozinhar com uma máquina significava ver o acto como uma espécie de junção de ingredientes com muitos botões à mistura.

Já não era “cozinhe em lume brando até fiar dourado” mas “carregue em 40º, no botão com o sinal F, por 20 minutos”. [reviro os olhos aqui!]

Ao final de umas semanas, fazia a sopa da miúda, e chegava de apertar botões. Tinham-me retirado o prazer de envolver, temperar e estar de volta do tacho fervente. Sopa? Era só atirar tudo lá para dentro e 90º, 30m., v.6…

Nova experiência

Há uns anos, aderimos à dieta cetogénica cá em casa.

Já devem ter lido por aqui a palavra Keto e é isto que significa. A ideia, muito geral, é limitar o consumo de hidratos de carbono a uma quantidade diária quase residual.

Após muito tempo, a tentar encaixar o que podia e não podia comer, como manter a atenção no despiste destas coisas, e onde podia comprar alimentos que pudesse comer, lá arranjei uma forma de desenhar um plano alimentar.

Não vou bradar aos céus os bons resultados, até porque é difícil manter esta dieta por muito tempo, numa sociedade em que os hidratos de carbono são aconselhados, e o açúcar está escondido nos produtos mais insuspeitos.

A dieta cetogénica exige maior planeamento e, se quisermos variedade no que comemos, há produtos que precisam ser encomendados bem longe daqui… quem diria que konjac era bom?!

Continuo em modo experimentação, de receitas, de ingredientes, de marcas de produtos, mas não é tempo para loucuras pelo que o Konjac aparece de vez em quando, mas é mais fácil (e económico) arranjar o esparguete de courgete.

Mas, a grande alteração aqui tem sido o planear das refeições da semana na semana anterior.

Eu?! A planear o que como na semana anterior!!! Estive anos à espera disto!

A cozinha cetogénica é feita de produtos frescos. Saladas, certos tipos de sementes, fruta específica, proteína e gorduras escolhidas com cuidado. Tem sido uma aventura encontrar, adaptar e inventar receitas que podemos gostar e que sejam o menos exigentes possível… na semana passada fiz uns pastéis de atum (em azeite) (faziam lembrar pastéis de bacalhau) que levaram uma hora e meia a fazer e, no fim, não gost´amos particularmente. Repeti-los?!, só alterando a receita.

O que o planeamento me ensina?

A optimizar recursos.

A colocar mais de mim, e do que gosto de fazer, naquilo que faço.

A não desperdiçar com opções que acabam por não ser utilizadas.

Obrigar-me a seguir um plano porque é mais fácil segui-lo do que criar novas opções.

A sentir que controlo melhor o que se passa.

A abdicar da confusão diária de fazer escolhas em cima do joelho.

A garantir que os resultados são, pelo menos, comestíveis (mesmo que não sejam os preferidos).

A proporcionar certezas do que vai acontecer.

A autorizar-me a experimentar novidades, integrar as de sucesso, e descartar as outras.

A aceitar que, se for preciso mudar, não há problema. Adapta-se as refeições escolhidas à necessidade diária.

A apaziguar ansiedades.

Todos estes ensinamentos são, para mim, de extremo valor.

Dizem que precisamos de 66 dias para formar um novo (positivo) hábito. Ou seja, é preciso praticar, todos os dias, durante 66 dias, para que a prática passe a hábito e se fixe, por o máximo de tempo que nos for possível. Esta é a quarta semana de planeamento alimentar… vou a meio.

A favor desta experiência nova, que espero ver transformar-se em hábito, gosto do espaço que ela libertou nos meus dias. Não me preocupo em escolher, apenas a que horas vou fazer.

O outro lado da questão é: o tempo que levo a escolher tudo de uma vez e organizar a lista de compras. Pelo menos hora e meia neste processo.

Hoje é Domingo. Costumam planear as refeições da semana? Planeiam outras actividades? Usam o fim-de-semana para o fazer? Quanto tempo resistem a fazer estes planeamentos? Quais são as excepções?

Contem-me tudo.

desejo-vos uma excelente pausa de Domingo!

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