O que fazer para manter a prática criativa

ideias para manter a prática

Olá a todos. Sejam bem-vindos a este [recursos do escritor].

Hoje, escrevo-vos sobre as orientações que sustêm a prática do trabalho criativo (e da escrita, em particular).

Escrever é um trabalho criativo que não existe sem uma qualquer espécie de prática consciente e objectiva. Qualquer Construtor Criativo tem noções muito especificas do que funciona para a sua prática criativa, e como essas actividades, paralelas e complementares, estão interligadas.

Quando abandonamos as práticas que sustentam a escrita, seja por que motivo for, a energia acumula-se.

E, como o resto da vida não pára, e não estamos a salvo das influências do dia-a-dia, em cima da falta do escape criativo que deixámos de ter, as coisas complicam-se.

Na minha experiência pessoal, recordo três momentos de extremo burnout mas, só vou mencionar um. Aquele que viu nascer a escrita do livro “Percepção”.

Atenção, não sou a pessoa indicada para vos ajudar a resolver essas questões, apenas quero partilhar a minha experiência pessoal e, de certa forma, mostrar porque escolho certas abordagens em detrimento de outras.

Experienciei um longo momento em que o excesso de actividades, na minha vida adulta, era apenas isso: excesso de actividades. Empurrada a fazer um trabalho muito pouco criativo, parte dele contra muito daquilo em que acreditava(to), num volume sobre-humano, a sofrer bullying no local de trabalho, sem pausas semanais para descanso, com excesso de horas extra, e sem dormir nas poucas horas que tinha (fruto de uma série de eventos que coincidiram na mesma altura), levaram-me ao ponto de ruptura.

E, no entanto, não podia desistir. Nem sequer tinha clareza mental para procurar outra coisa, porque era suposto ser um bom trabalho. Tinha de aguentar e continuar. Não havia ajuda para mim.

Nessa altura, as actividades criativas deixaram de existir para mim e, até este blog estava mais do que parado. Até porque usavam o facto de eu o actualizar para provar que não estava dedicada ao trabalho formal por inteiro. Porque se tenho tempo “livre”, após o horário de trabalho entenda-se, era porque não estava a fazer as horas extra que podia fazer.

Com o início do trabalho por conta de outrém, cerca de uma década antes, fui abandonando todas as actividades criativas. Fui-me abandonando a mim.

Não tinha tempo para ler, quanto mais escrever. O poço criativo estava vazio. E, a minha cabeça fez blip e desligou. E, a seguir, foi o descanso de uma pessoa que não tem o mínimo para continuar, e acaba por escolher o oblívio vivo. Foram meses, longos e dolorosos.

Mas, um dia, cheguei a casa e sentei-me a escrever um livro. Algo que já tinha tentado fazer e que nunca me esqueci. Escrevi-o do início ao fim, numa série de semanas… o resto, faz parte da história de como escrevi “Percepção”.

Este não foi o meu único episódio de burnout. Mais tarde, percebi que, no fim da adolescência já tinha cruzado esta linha, sem saber bem como. E, de lá para cá, experienciei pelo menos mais dois momentos de extremos. A fadiga é tramada!

O que mudou, desde essa ocorrência, foi saber que por mais que a vida normal exigisse total devoção, não podia parar o trabalho criativo.

Ler salvou-me a vida em mais do que uma ocasião. E, escrever também.

No momento ascendente, com um primeiro rascunho de “Percepção” escrito e pronto a rever, comecei a procurar ler mais sobre a arte da escrita. E, no meio de tantas opiniões, crenças e constatações, comecei a definir aquilo que eu acredito ser importante para esta minha prática criativa.

Ideias que fui reunindo até chegar a uma espécie de lista positiva do que necessito para manter a prática criativa.

Estas são algumas destas ideias que gostaria que considerassem. Não são, de todo, novidade mas, são importantes quando lutamos contra a inércia e a procrastinação, e contra a auto-sabotagem. São ideias em que acredito e que me esforço por praticar. Ênfase no esforço-me

* Abraçar a constante mudança

Podemos chamar-lhe uma prática (de escrita), mas a verdade é que temos de nos adaptar a cada dia e ao inesperado que pode sempre vir. Aceitar a mudança, e adaptar-nos a ela, é o melhor conceito que podemos ter. Não é fácil, mas é necessário.

Sim, hoje dormi pior, e não consigo levantar-me às 6 da manhã! Ou, tenho uma enxaqueca e não abro os olhos. Ou, um telefonema urgente arranca-me de casa. Ou, uma birra gigantesca impede-me de usar aqueles minutos que estabeleci para fazer algo. Ou, qualquer outra situação, até mesmo o facto de não me sentir inspirada para trabalhar neste projecto, e agarrar antes aquele…

A adaptação à mudança é dolorosa mas essencial. E, continua a ser uma dor na minha existência!

* Trabalhar com Alegria

Aquela corrente de escritores que trabalhava na maior, e mais completa, miséria pessoal pode funcionar para os teórico-filósofos-existencialistas-clássicos (estou ciente de que este termo não existe, mas acho que compreendem onde quero chegar), mas não funciona para mim. Não dessa forma.

Sim, esta vida é o que é, e este mundo é o que é… e pouco mais quero dizer sobre isto.

Nem tudo o que escrevemos tem de ser uma fotocópia do que vivemos. Aquilo que vivemos constrói, de forma subjacente, sobre o que escrevemos.

Não precisamos trabalhar em agonia constante e, se não encontramos o ponto em que o flow existe e nos carrega para o estado de satisfação por estarmos a escrever (depois de vencermos toda a resistência que sempre nos acompanha)  então, se calhar, é melhor revermos as nossas prioridades.

Estar satisfeita quando faço algo, como escrever, ler, investigar… é essencial a esta prática criativa. Trabalhar com Alegria é sinal de um trabalho criativo bem feito.

* Não Estagnar

Existir em constante busca por dominar uma certa actividade e, a seguir, procurar ir mais além. Não estagnar naquilo que já sabemos fazer, mas procurar melhorias, outros desafios, novas iterações de algo.

O processo criativo é feito de progressos. Água estagnada é o berçário de mosquitos e doenças.

Nós, criativos, precisamos de águas em movimento, de aprender, ver tentar fazer mais, melhor, diferente. Ter sempre um objectivo, para além daquele que acabámos de conquistar, é a chave para não estagnar.

* Estabelecer objectivos específicos

Treinar para sabermos mais, para fazermos mais, para criarmos melhor, significa olhar para o que nos falta, e o que podemos fazer para lá chegar.

Saber, exactamente, onde queremos chegar significa ter a clareza suficiente para ir em busca dos meios de que necessitamos para cumprir o objectivo.

Como sabemos o que é o sucesso, se não o definimos antes?

Como estabelecemos um plano, quando não sabemos o que queremos atingir?

* Sair da zona de conforto

Empurrar-nos a sair da zona de conforto, a chegar um pouco mais longe do que esperávamos, a esticar-nos um pouco mais do que acreditávamos conseguir, a entrar um pouco no desconhecido e, portanto, em território onde tudo é possível.

Pessoalmente, adoro a zona de conforto. E, muitas vezes, tenho dificuldade em manter a zona de conforto controlada, o que torna este exercício muito esquisito. Diminuo a fasquia, resisto, volto para trás… uma chatice.

Depois relembro-me que, sair da zona de conforto pode ser tão simples como forçar-me a ler algo que nunca escolheria. Ou, ir fazer algo novo…

* Mantém o Sistema a Funcionar

Quase não importa o que fazemos para nos mantermos a funcionar no domínio criativo. Importante é que o mantenhamos a funcionar. Um sistema é formado por diferentes partes que se relacionam e trabalham entre si. Manter as partes a funcionar ajuda a manter-nos em movimento constante.

Por isso, escrever as páginas matinais ajuda-nos a manter a escrita ficcional. Ou, escrever um blog ajuda a investigarmos temas de forma mais aprofundada. Ou, ler não ficção ajuda a criar ficção. Observar ajuda-nos a descrever…

Manter-nos em movimento faz com que a criatividade não nos abandone.

Já leram o artigo Filofax, uma prática de recolha de informação ? Esta foi uma forma de me desafiar e que suporta a prática criativa. Leiam e digam-me o que pensam sobre o assunto.

* Descansar

Um dos pilares da saúde é o descanso. Qualquer actividade exige um esforço que temos de compensar, sob o risco de nos magoarmos a sério e de forma irreversível.

Nós precisamos de tempo para descansar após uma qualquer actividade que exija os nossos recursos. Não há como fugir disto e, no entanto, continuamos a comportar-nos como crianças que se recusam a ir dormir, sabendo que têm de se levantar cedo, só para ficar mais uns minutos em frente a um qualquer ecrã.

Sempre tive uma relação muito difícil com o descanso. Nunca lhe tive qualquer respeito, até compreender a falta que me fazia. Mais, quando atei a necessidade de me sentir validada, às noções pouco empáticas de produtividade… só me trouxe mais stress.

Tudo precisa de descanso orgânico. Não apenas nós, mas mesmo aquilo que criamos.

Cada uma destas ideias tem-me acompanhado, para que eu possa relembrar-me de como manter o trabalho criativo a acontecer. Porque, é nos momentos em que me esqueço do que esta vida criativa envolve, que me sinto pior. 

Prefiro fazer o que é preciso para continuar. Não desistir da viagem, independentemente, de qual seja o destino.

Obrigada e Até Breve!

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