Opinião “Book of Night” por Holly Black

book of night

Olá a todos. Sejam bem-vindos [à minha Biblioteca].

“Book of Night” por Holly Black… sem spoilers, apenas certas características da história e das personagens.

Ora, na tentativa de me retirar do universo de “Fourth Wing” por Rebecca Yarros (que contém “Fourth Wing” e “Iron Flame”, escolhi “The Cruel Prince” por Holly Black… que contém mais três livros e duas histórias mais curtas (estas últimas. não li).

Li os três da colecção Folk of the Air e os dois da colecção The Stolen Heir, no mesmo universo. E… fiquei sem nada que suplantasse o que havia lido, e sem vontade de reler o que quer que fosse.

Então, ocorreu-me que estava a gostar da escrita de Holly Black. Tanto que, mesmo num tema que nunca me atraiu com força magnética como os Fae, apreciei mesmo a história de Jude e Cardan e, um pouco menos a de Oak e Suren.

Ok, confesso que o audiobook em AI estragou a experiência. Odeio! Quem inventou esta cena devia ser banido da raça humana 😱☺️ Ler, de forma mecânica, sem qualquer interpretação de texto, e a cortas as frases a meio, cheio de pausas esquisitas!!!! Odeio!

A escrita de Holly é bonita, ritmada, com uma certa musicalidade poética que me agradou. As histórias estão construídas com mestria e a pesquisa que a apoiou salta à vista.

book of night

Assim, quando li:

Holly Black makes her adult debut with Book of Night, a modern dark fantasy of shadowy thieves and secret societies.” — goodreads

Holly Black estreia-se na literatura de adultos com “Book of Night“, uma obscura fantasia moderna feita de ladrões de sombras e sociedades secretas, — é! isto soa melhor em inglês! — decidi dar-lhe uma hipótese.

A princípio, o tema pareceu-me algo rebuscado. Sombras que se separam de nós, soa esquisito. A existência de um mundo de sombras, também não é uma ideia nova… e, nisto, ocorre-me a série “Fever” por Karen Marie Moning, Peter Pan, ou “Fourth Wing” (e há outras referências literárias, ao longo do livro). E, a explicação dos diferentes tipos de utilizadores de sombras, proporcionou-me uma sensação de infodump que tinha tudo para não funcionar.

Depois, começa a história… saltando entre a infância das personagens principais, que as molda na grande confusão de adultos que são, no presente.

Durante uma boa parte do livro, Vince é uma personagem que tomamos como mais ou menos ali. Ele existe, mas o seu papel é apagado. Tanto que, durante boa parte do tempo, acreditei que iria entrar outra personagem como interesse amoroso.

Enquanto isto, Charlie continua a ser a confusão ambulante que nos faz considerar “escolhas de vida” de uma forma profunda… é que, Charlie, só escolhe as mais idiotas.

Traumas ocorrem e Charlie vê-se, de novo, a braços com o poderoso mundo das sombras e dos seus manipuladores.

Ao fim da primeira volta neste livro, e da sensação de que me tinha escapado algo, decidi: leio de novo.

Porque sentia que não tinha dado conta das pistas mais importantes. E assim havia sido. À segunda volta, vi os pormenores, relacionei o que veio depois, com o que estava a ler agora. E, a surpresa final foi um bom coice no lombo.

Aquela que teria levado, se tivesse prestado mais atenção ao que estava a ler, na primeira volta.

Mais uma vez, Charlie sempre dobra o valor das suas más escolhas. Ou seja, não há nenhuma escolha má que ela não possa duplicar e, por cima, fazer ainda pior… assim à laia de apostador viciado.

Agora, vamos à outra parte desta história: os símbolos e os seus significados… mas, no estilo: apontamentos no meu journal. Quero mesmo partilhar o que fui pensando à medida que lia, relia e pensava sobre o assunto. Assim:

30 de Abril de 2024

(…) tenho vivido no mundo de magia dos livros de Holly Black. De fadas a sombras, a paz tem estado aqui. Juntei-lhe estética japonesa e mundos paralelos, histórias e realidade. Sei, exactamente, onde está a magia que me sustenta. Na mistura, enquanto me encho de referências que poderei, ou não, vir a utilizar (…) vou almoçar.

01 de Maio de 2024

Estou no mundo “Book of Night” de Holly Black. Tão interessante. Tanto potencial. Um mundo de sombras que somos nós, ou partes de nós, com as quais não desejamos conviver. Ou partes de nós que, não somos nós, e que se separam de nós, ultrapassando mesmo a nossa sobrevivência natural.

Temas que incluem compreender a existência das partes de nós que não achamos serem boas. Aquelas partes que não queremos connosco. Aquelas partes da nossa consciência que empurramos para uma caixinha, como se fosse separada da nossa Consciência total.

Neste livro temos a Sombra que é e, ao mesmo tempo, não é a pessoa. Que pode ser cosida a outra pessoa. Que pode ser manipulada. Que é usada como depósito daquilo que a consciência não sabe como aceitar. Uma entidade feita dos nossos traumas.

02 de Maio de 2024

Claro que vemos os temas de Carl Jung… os quais mantenho na lista de assuntos a investigar de forma mais profunda, mas que ainda não o fiz… por um qualquer motivo que não sei explicar.

Recorrendo `a psicologia, temos o conceito de consciência bifurcada, de separar as partes de nós de que não gostamos, ou que não aceitamos. O conceito de shadow work, para trabalhar esses temas, e compreendermos o que nos pode ajudar a curar a forma como vemos essas partes que não aceitamos.

Depois, temos a personagem principal, Charlie Hall.

Ela é a criança traumatizada, explorada numa infância difícil, abandonada emocionalmente pelos seus pais separados, abusada (emocionalmente) pelos adultos à sua volta, e pelos namorados da mãe, responsável por uma irmã mais nova que cresce nas mesmas condições que ela, mas que Charlie tenta proteger das formas que sabe.

São os actos que Charlie acredita ter de conter aqueles em que ela se destaca. Uma trapaceira (con artist) de talento, cujos dotes são cultivados desde criança. São os seus actos, as suas capacidades moralmente questionáveis, que ela parece ter jeito.

Crescendo com a certeza de que o amor dos seus pais por si é condicional, que o apoio para si e para a sua irmã é quase nulo, considerando-se um fardo para a sua mãe, e um bibelot para o seu pai, e material para exploração para os homens que passam pela vida da sua mãe.

04 de Maio de 2024

Este livro é interessante. As sombras somos nós. Elas são o conjunto das nossas emoções menos boas. .. não. Elas são o conjunto das emoções que recusamos aceitar que temos.

As sombras podem sobreviver ao seu criador, através da sua ligação (cosidas) a outra pessoa, e são alimentadas através de sangue, das gotas que o seu portador lhe dispensa todos os dias… o que tem significados para além da simples doação de sangue. Quando a sombra esgota os recursos do seu portador acaba por existir ligada a outra pessoa, ou se sem portador, definhando ao longo do tempo… mas, há outras variedades que vão sendo descobertas nesta história.

E, no grande esquema das coisas, há sempre os grupos de pessoas que se juntam para usar aquilo a que se dá valor, porque é difícil de obter para a pessoa comum.

Há, sempre, a natureza humana a operar, os utilizadores de sombras alteradas por ego e vaidade. Há, sempre, os grupos de pessoas que se juntam para controlar o poder, e limitar o acesso dos outros a ele, e usá-lo para os seus fins. Afinal, é a ideia de escassez que introduz a medida de valor. Há, sempre, os estudiosos dos temas, em busca de uma compreensão maior, de uma explicação para o mundo que os rodeia… há estudiosos para todos os tipos de temas, mesmo os mais esquisitos. E, há aqueles que retêm o conhecimento para si, procurando manietar a competição.

São-nos apresentadas variadas vivências, de pessoas ligadas à magia das sombras, mas são os pormenores que nos mostram a possibilidade de uma complexidade maior.

Agora, fora do modo journal, e em jeito de conclusão.

Acho que perceberam que gostei bastante do primeiro livro desta duologia. E, que vou ficar à espera do segundo volume com ansiedade.

Charlie é uma personagem brutal. Aquela, que faz sempre pior, quando a última decisão já era má… qualquer relação com uma pessoa normal, não é imaginação. E, estas escolhas vêem-se em tudo.

Só percebe que está metida em sarilhos, quando o sarilho já está a ocorrer. Só percebe que gosta de alguém quando a relação acaba. Só escolhe a pior solução possível, quando não há mais escolhas. E, isto vê-se em tudo… em especial, no final.

Vince é uma surpresa. Assim como as diferentes partes desta história o são. Adorei! (4,7⭐️)

Obrigada e Até Breve!

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