Dia 24 de Outubro e, não sei como estarão as coisas aí por esse lado, mas sei que por aqui tem havido muito diálogo interno e conflitos interiores. Depois de termos a história planeada, as personagens definidas e um sentido geral do caminho que queremos seguir, continuamos a ter demasiado tempo nas mãos. Demasiado tempo para, analisar racionalmente e, pôr em causa tudo o que construímos nestas últimas semanas.
E, é aí que, nos sentimos tentados a usar a estratégia procrastinadora por excelência: adiar tudo para o último momento possível.
Ao ler ‘Bird by Bird’ de Anne Lamott, deparei-me com um capítulo muito interessante, sobre este tumulto interior que nos acossa de vez em quando. Baptizado de ‘Brócolos’ (inspirado no ‘2,000 Year Old Man’ de Mel Brooks) consiste em algumas páginas que ilustram a situação e incentivam a ouvir aquela vozinha interior. Aquela que nos diz o que a personagem ou a história quer ou precisa. Esta é a minha interpretação destas páginas e do seu significado pessoal.
Quando não sabemos o que fazer, se a personagem fará isto ou aquilo, devemos aquietar-nos e ouvir a nossa voz interior, ou intuição. Habituados a deixar-nos guiar pela racionalidade exacerbada, acabamos por cair no hábito de duvidar dessa intuição. Para escrever, precisamos dela.
Este curto capítulo incentiva-nos a recuperar a confiança depositada na nossa vozinha interior e, por inerência, em nós próprios. Sentar-nos à secretária com uma postura activa, determinada e dispostos a usar até violência, é o antídoto para a desistência. Acreditar em nós próprios é essencial, especialmente num primeiro rascunho onde, habitualmente, estamos rodeados por ansiedade e pouca confiança nas nossas capacidades. Ultrapassar este estado de espírito implica compreender a existência da nossa própria imaginação e das nossas memórias. Implica confiar naquilo que sabemos e deixar que a intuição assuma a liderança.
A intuição perdida, no decorrer da nossa integração numa sociedade racionalmente orientada, voltará a manifestar-se se lhe dermos o espaço adequado para que se desenvolva. Silenciar a conversa de chacha da mente racional ajuda. Assim como, parar de tentar controlar a mente de forma absoluta. Ao silenciar essa voz criamos o espaço necessário para os palpites intuitivos sobre história, enredo e personagens.
Exercita a capacidade de escutar a tua vozinha interior. Deixa que essa intuição coloque em papel aquilo que lhe cruza o espírito. Muitas vezes, afogamos as nossas intuições, ao recorrermos a lugares comuns (clichés). Editamos intuições ao passá-las para o papel. É preciso assumir que tudo o que pensas e sentes é material valioso. Depois, sê suficientemente ingénuo para colocar tudo isso no papel. Escuta a tua intuição e cala a tua mente racional.
Confiar na tua intuição precisa, sem dúvida, de uma metáfora adequada. Algo que apresente uma voz que não tentamos controlar racionalmente. Algo como ‘Ouve os teus brócolos e eles dir-te-ão como os deves comer.’; ‘O meu animal pensa isto ou odeia aquilo.’; ‘Se estás perdido na floresta, deixa que o teu cavalo encontre o caminho para casa.’; ou, a minha preferida, ‘Não olhes para os pés. Simplesmente Dança.’
Anne Lamott diz: escrever é hipnotizares-te para acreditares em ti mesmo, depois trabalhas durante um tempo e, por fim, sais do estado de hipnotismo e avalias o material produzido friamente. Haverá erros, coisas a incluir e outras a retirar. A maioria de nós acredita que o que vai para o papel deve ser de importância cósmica. Isto está errado. Se não temos a certeza para que lado ir, que decisão tomar, devemos manter a coisa simples.
Ou seja, ouvir a música e dançar em vez de, olhar para o pés e, tentar adivinhar os passos certos.
O NaNoWriMo tem a missão de nos fazer escutar a nossa vozinha interior. Empurra a mente racional para o lado enquanto nos preocupamos com tempo e execução. Mas, se pensarmos na disciplina necessária para escrever frequentemente, também nos trará a convicção de que precisamos silenciar o gajo chato (o meu editor interior é, obviamente, do sexo masculino) que há dentro de nós e acreditar que uma boa história é feita de algo mais do que engenharia das palavras, é cunhada pela nossa intuição e forjada por aquilo em que acreditamos.
Dito isto, vou voltar ao planeamento. Desta vez, deixo que seja guiado pela intuição.
Já sentem o nervoso miudinho pré-NaNoWriMo? Intuição ou Racionalização, quem irá triunfar?
ΦΦ
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Não nenhum nervosismo. Porque o sentiria? Não passa de um exercício de escrita. Se sair algo de útil óptimo, se não sair paciência, divertir-me-ei simplesmente a escrever desapegadamente.