Este é um livro que pode ser lido por vários tipos de pessoas. Não só por aqueles que não conseguem evitar escrever mas, também, por os que apesar de não partilharem o bichinho da escrita partilham a vontade de fazer parte da vida de alguém que o tem. E, também, por todos os outros que se interessam por outras realidades que não a sua, e apreciam reflectir sobre a vida.
Este foi um livro que degustei. Li-o, capítulo a capítulo, um por dia, à beira da piscina, nas pausas para café, nos bocadinhos em que precisava de inspiração… Tirei notas, citações, apontei ideias, rabisquei-o na margem… E eu odeio rabiscar livros!
Através dele experienciei um largo espectro de emoções, que mesmo em público, não consegui conter. Fui apanhada a sorrir, rir e gargalhar, até se tornar embaraçoso. Ele ajudou a colocar mais algumas peças do puzzle no lugar e, tal como Anne descreve, serviu o maior intento que qualquer livro pode almejar: esperança.
Baseado nos seus anos de experiência como escritora, filha de escritor, professora de escrita criativa, colega de grupos de leitura e escrita, amiga, mãe e mulher, ‘Bird by Bird’ é um livro que se destaca pela sinceridade com que os temas são abordados.
Pensei em aconselhá-lo para leitura, mas prefiro dizer o contrário: Não o leiam. Não, se não estiverem preparados para colocar o dedo na ferida. Não, se não quiserem tirar o tempo para reflectir na vossa própria experiência. Não, se não quiserem transpor aquela barreira que insistimos em erguer à nossa volta. Não, se não estiverem dispostos a olhar para o passado, o presente e o futuro com olhos de ver. Não o leiam se estiverem interessados em desperdiçar a mensagem.
Este é um livro impossível de descrever, e de resumir, pela miríade de temas que aborda e pelos significados que cada um de nós pode retirar dele.
Acho que posso compará-lo a uma viagem. Enquanto não estivermos dispostos a ir, a comprar o bilhete e embarcar no avião, não seremos capazes de falar sobre a experiência. Enquanto não estivermos dispostos a sermos sinceros connosco, receptivos à compaixão (por nós próprios e pelos outros), não saberemos aproveitar as suas mensagens.
Escolhi um pequeno excerto, que sendo incapaz de resumir o conteúdo do livro, ilustra-o com mestria:
“We were outsider in her garden. The sky was blue and cloudless, everything was in bloom, and she wore a little lavender cotton cap. She was doing very well that day, except that she was dying. (My father’s oncologist once assured him, “You’re a very, very healthy fifty-five-year-old-man, except, of course, for the brain cancer.”) We were lying on chaise longues, in t-shirts and shorts, eating miniature Halloween chocolate bars. Sam was pulling Pammy’s two- year-old daughter Rebecca around the garden in a little red wagon.
I’m a little depressed.” Pammy said. One day not long before, she had said that all she had to do to get really, really depressed was to think of Rebecca, and all she had to do to get really, really joyful was to think of Rebecca. “I’m actually quite depressed,” she said.
“I don’t see why.”
“What’s the silver lining here? I can’t seem to remember today.”
“The silver lining is that you’re not going to have to see any more naked pregnant pictures of Demi Moore.”
She looked at me for a moment with real wonder. “God,” she said, “that’s a lot – I haven’t even thought of that.” And she was very funny again for the rest of the day, happy to be with the children and me.
It was such a rare scene that you would think I would remember it forever. I used ti think that if something was important enough, I’d remember it until I got home, where I could simply write it down in my notebook like some normal functioning member of society. But then I wouldn’t.” (…) p.134
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Este é um livro que há bastante tempo quero ler, mas ainda não o adquiri. Vai ser umas das próximas aquisições. 🙂
Adorei o excerto e a forma como falaste do livro. Dá mesmo vontade de ler.
É muito bom, vale mesmo todo o tostão 😉