‘É papel do autor definir quem será o narrador ou qual a melhor perspectiva para contar determinada história. É o autor que cria o universo onde a acção tem lugar e é ele que define qual o ponto de vista ou perspectiva sob o qual a história será contada.’ Recursos do Escritor: Qual é o teu ponto de vista? A narrativa na 1.ª pessoa
O narrador é uma entidade, ou pessoa, que conta a história sem qualquer envolvimento pessoal, e que não descreve pensamentos ou sentimentos das personagens. Usa o pronome “Ele/Ela” ou, no plural, “Eles/Elas”.
A vantagem é tornar a história intensamente visual pois para contá-la precisa de actos invés de pensamentos e palavras. Outra vantagem é poder contar a história de forma totalmente imparcial, pois não está sujeita às interpretações de nenhuma personagem.
Uma desvantagem prende-se com o facto de pensamentos e emoções não serem facilmente entendidos através da linguagem corporal e expressões faciais, tornando a sua comunicação num desafio. Outra desvantagem é não criar intimidade com o leitor porque o narrador nunca entra na cabeça da personagem e não revela a perspectiva pessoal da personagem.
Alguns excertos de obras escritas na 3ª Pessoa Objectiva:
‘A manhã de 27 de Junho estava clara e soalheira, com o calor crescente de um dia de pleno verão; as flores desabrochavam em profusão e a relva era de um verde opulento. As pessoas da aldeia começaram a juntar-se na praça, entre os correios e o banco, por volta das dez horas; em algumas cidades as pessoas eram tantas que a lotaria demorava dois dias, tendo inicio a 26 de Junho, mas naquela aldeia, onde havia apenas cerca de trezentas pessoas, a lotaria demorava menos de duas horas, por isso podia começar às dez da manhã e acabar a tempo das pessoas voltarem a casa para almoçar.
As crianças reuniram-se primeiro, como era óbvio. A escola fechara recentemente para as férias de verão, e a sensação de liberdade ainda não era completa para a maioria delas: Costumavam reunir-se calmamente durante um bocado antes de começarem a brincar de forma mais intempestuosa, e as conversas ainda se prendiam com a sala de aulas, o professor, os livros ou reprimendas sofridas. Bobby Martin já tinha enchido os bolsos de pedras e os outros rapazes depressa lhe seguiram o exemplo, escolhendo as pedras mais lisas e redondas.’ ‘The Lottery’ de Shirley Jackson (tradução livre por Sara Farinha)
‘As colinas sobre o vale do rio Ebro eram grandes e esbranquiçadas. Do lado de cá, não havia sombra nem árvores e a estação ficava, ao sol, entre duas linhas de carris. Perto da lateral da estação, na cálida sombra do edifício, via-se uma cortina feita de contas de bambu que tapava a porta aberta para o bar e mantinha as moscas do lado de fora. O americano e a rapariga que estava com ele sentavam-se, à sombra, numa mesa do lado de fora do edifício. Estava muito calor e o expresso de Barcelona chegaria em quarenta minutos. Ele parava por dois minutos naquele entroncamento e seguia para Madrid.
“O que vamos beber?” A rapariga perguntou. Ela havia retirado seu chapéu da cabeça e pousado na mesa.
“Está muito calor,” o homem afirmou.
“Vamos beber cerveja.” ‘Hills Like White Elephants’ de Ernest Hemingway (tradução livre por Sara Farinha)
Um estilo um pouco mais impessoal. Concordam? Ou ‘The Lottery’ livra-nos de preconceitos?
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