‘É papel do autor definir quem será o narrador ou qual a melhor perspectiva para contar determinada história. É o autor que cria o universo onde a acção tem lugar e é ele que define qual o ponto de vista ou perspectiva sob o qual a história será contada.’ Recursos do Escritor: Qual é o teu ponto de vista? A narrativa na 1.ª pessoa
5. Vários Pontos de Vista ou Alternado:
O narrador escreve sob a perspectiva de múltiplas personagens. A história é contada na primeira pessoa por mais de uma personagem, alternando o ponto de vista entre duas ou mais personagens.
Ou seja, o narrador é composto por várias as personagens da história e narra cada intervenção do ponto de vista de cada uma delas.
A vantagem é o leitor saber o que todos estão a pensar e, quando bem executado, temos uma noção de ligação entre as personagens em si ou/e entre elas e a história. Quer os diferentes narradores se saibam disso ou não.
A desvantagem é tornar-se difícil para o leitor identificar-se com uma personagem. Isto diminui a experiência de leitura, pois não há mistério e ele sabe sempre as intenções dos intervenientes. Caso não seja bem executado, este tipo de narração acarreta ainda o perigo de, em alguns momentos, tornar-se difícil identificar quem está a contar a história.
A ter em atenção é a necessidade de construir boas personagens para que o leitor as reconheça com facilidade ao ler o texto. Este é um aspecto crítico para que não sejam fotocópias mal tiradas umas das outras. Também, cada narrador tenha a quantidade certa de tensão na sua história para que ela funcione separadamente e, em simultâneo, como um todo.
Outro tipo de ponto de vista alternado é quando se usa um narrador na 1ª Pessoa complementado com um narrador na 3ª pessoa Subjectiva (ou Omnisciente). Mas este é uma composição de tipos de narrador que deve ser explorada com cuidados acrescidos.
Alguns excertos de obras escritas em ponto de vista alternado:
‘Pipin espreitou do abrigo da capa de Gandalf. Perguntou a si
mesmo se estava acordado ou continuaria a dormir, se ainda estaria a participar no sonho veloz em que mergulhara havia tanto tempo, desde que a grande galopada começara.’ (…)
(…) ‘Finalmente os hobbits tinham o rosto voltado para casa. Sentiam-se ansiosos por voltar a ver o Shire, mas ao princípio cavalgaram devagar, pois Frodo não se sentia bem. Quando chegaram ao vau do Bruinen, ele parou e pareceu sem vontade de entrar no rio.’ ‘O Senhor dos Anéis – O Regresso do Rei’ de J.R.R. Tolkien
‘A manhã chegara límpida e fria, com uma aspereza que sugeria o fim do Verão. Partiram ao nascer do dia para ir ver a decapitação de um homem, vinte ao todo, e Bran cavalgava com os outros, nervoso e excitado.’ (…)
(…) ‘Os pontos de Arya estavam de novo tortos. Franziu-lhes o sobrolho, desapontada, e olhou de relance para onde a irmã Sansa estava entre as outras raparigas.’ ‘A Guerra dos Tronos’ de George R.R. Martin
‘Lembro-me de estar caída na neve, uma pequena e quente mancha vermelha que começa a esfriar, rodeada por lobos. Eles lambiam-me, mordiam-me, atentos ao meu corpo,
aproximando-se cada vez mais. Os seus corpos bloqueavam o pouco calor que o sol proporcionava. A neve reluzia depositada nos seus focinhos e os seus hálitos eram formas opacas que permeavam o ar entre nós.’ (…)
(…) ‘Eles arrancaram a miúda do seu baloiço de quintal, feito de um pneu, e arrastaram-na para o bosque; o seu corpo deixando uma marca pouco profunda na neve, entre o mundo dela e o meu. Eu vi. E não impedi que acontecesse.’ ‘Shiver’ de Maggie Stiefvater (tradução livre por Sara Farinha)
Um tipo de perspectiva que favorece a criatividade e o aperfeiçoamento. Usam alguma destas combinações? Ou preferem algo mais linear?
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Parabéns pelo artigo 🙂
No exemplo do Tolkien, a primeira pessoa não é usada…não poderia ser simplesmente considerado uma narração na 3ª pessoa sbjectiva?
Obrigada. No exemplo do Tolkien a narração é alternada entre 3ª Pessoa Subjectiva e narrador Omnisciente.