“Either write something worth reading or do something worth writing.” Benjamin Franklin
Escreve algo que vale a pena ler ou faz alguma coisa sobre a qual vale a pena escrever.
Bom conselho e um óptimo mote para a tua escrita. Sobretudo se o que fizeres for impróprio para consumo de terceiros, ou acreditas que assim seja. São esses os acontecimentos que dão as melhores histórias. Aquilo que é real, cru, doloroso ou vergonhoso, todos esses acontecimentos são o material das melhores histórias. É a ficção imbuída de realidade, daquilo que acreditamos que não deve ser escrito, falado, ou partilhado. São esses momentos que nos ligam intrinsecamente a quem nos lê.
Tabus, preconceitos, momentos complicados, todos eles constituem material de escrita. Todos eles, se usados no contexto correcto, colocam a nossa escrita no patamar em que o leitor se identifica connosco. A partilha dos nossos momentos permite que o leitor se relacione com as nossas histórias. Que se identifique connosco e diga “tu também?”
Isto é algo que me acontece quando leio Susanna Tamaro, Anne Lamott ou Elizabeth Gilbert. Laurell K Hamilton, Nora Roberts ou Raymond Carver. W.H. Auden, Fernando Pessoa ou Florbela Espanca. Em cada género literário, identificamo-nos com personagens, com formas de pensar e agir, com valores ou tomadas de posição. Com dores ou alegrias, vivências e experiências, receios e desejos. Em cada pedaço de texto, revejo o mundo e, se eu o faço, devo trabalhar no sentido de conseguir fazê-lo por outros.
Escrever algo que vale a pena ler, implica ter vivido esses momentos sobre os quais vale a pena escrever. Começo a compreender porque dizem que um jovem não pode ser um escritor pleno. E tal prende-se com não ter experienciado o suficiente. Não viveu ainda uma quantidade, e variedade, de experiências que lhe permita abarcar mais do que a passagem dos dias.
A “bagagem” que cada um de nós carrega influi largamente naquilo que escrevemos. Ela pesa e enche as nossas histórias. Dá-lhes dimensão, profundidade psicológica e emocional. Escrever sobre dor, sem nunca ter experienciado dor de verdade, é transmutar o sentimento em algo banal, vazio, sem o peso que tal bagagem acarreta. Escrever sobre felicidade sem a ter experimentado é uma farsa mal engendrada que não chega a quem nos lê.
A “bagagem” tem de existir para que possamos entendê-la e transpô-la para a página. Para que lhe façamos jus e (de preferência) com mestria possamos partilhá-la com os outros. Quem não sofreu na pele, quem não viveu o suficiente, quem não experienciou, transparece nas lacunas que deixa.
Tudo nos serve, como escritores, como contadores de histórias. Tudo nos deve servir, como pessoas, e à nossa arte. Tudo o que vivemos se conjuga em muitos outros algos, pormenores, relevâncias e interligações. Tudo forma a trama sobre a qual assenta a teia pormenorizada do que nos (co)move.
É na densidade dessa trama, no colorido dessa teia e na técnica usada na sua construção, que provamos ser escritores… que provamos ser humanos, falíveis, imperfeitos, verdadeiros. É na construção de histórias assentes naquilo que somos, e que experienciamos, que temos alguma possibilidade de “agarrar” o leitor. Tudo o que resta são histórias vãs que não merecem ser contadas.
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