Opinião: ‘A lista dos meus desejos’ de Grégoire Delacourt

“Mentimos sempre a nós próprios. “A lista dos meus desejos

Esta é a primeira frase deste grande livro, ‘A lista dos meus desejos’ de Grégoire Delacourt.

Recordam-se daquela coisa com as primeiras frases? Esta foi um ‘”Apanhei-te!”

E é, absolutamente, verdade.  Mentimos a nós próprios.  Dizemos que  somos isto ou aquilo. Mentimos quando nos justificamos por querer isto ou aquilo. Porque vivemos melhor com essas mentiras do que vivemos com as nossas realidades.

Esta é uma história de realidades… De verdades. De natureza humana explanada de forma tão simples que conseguimos imaginar-nos a ser Jocelyne, ou Jocelyn, consoante a condição. São as mentiras que nos contamos a nós próprios. As verdades com que vivemos. As realidades que escondemos.  Tudo o que superamos e aquilo que nunca seremos capazes de ultrapassar.

“Eu estendida os braços na escuridão e abria-os na esperança de que a minha mãe viesses aninhar-se neles. Rezava para que o calor dela me aquecesse,  para que as trevas não me levassem. Mas as mulheres estão sempre sós face à maldade dos homens. ” pág. 110

Esta é a história de Jocelyne e de Jocelyn.  Casados há vinte e um anos. Felizes e infelizes em igual medida. Vivem uma vida mundana…  Trivial,  mesmo se sofrida. Então surge algo que vem mudar tudo. E,  perante a escolha entre o que se tem e o que se quer (ou o que se julga que se quer) ambas as personagens tomam decisões que irão transformar as suas vidas e as suas formas de ser.

“Passa as tardes nas esplanadas dos cafés para tentar fazer amigos. As conversas são raras. As pessoas estão sozinhas com os seus telemóveis. Lançam milhares de palavras no vazio das suas vidas. ” pág. 156

Esta é uma história que começa com um ar mundano. Que nos deixa indecisos de sobre o rumo das personagens. Que nos surpreende nos pormenores. Uma história que vai engrandecendo à medida que vai sendo construída e que nos faz colocar perguntas importantes sobre nós próprios.

Ponto fulcral é: as listas. Elas representam a organização mental de Jocelyne. As suas vontades e sonhos. As coisas que quer ter. Aquilo que quer que aconteça. E, sobretudo, as coisas que não quer perder. São, também, um adensar de desejos.  Uma prova de que o tempo muda vontades,  mas não muda essências. E,  mesmo quando a vida reserva sofrimentos, por vezes escolhemos permanecer no mesmo caminho. Apenas para, mais tarde,  constatar que não foi a escolha mais sábia, mesmo que tivesse sido a mais abnegada.

“talvez acredite no perdão. Talvez acredite que  (…)  um dia, compreendemos as coisas que não explicamos. ” pág.155

No final, a traição é demasiado para suportar e Jocelyne faz a única escolha possível.

“Há cerca de dezoito meses,  eu deixara-me morrer para dar à luz outra pessoa. Mais fria, mais angulosa.  A dor remodela-nos sempre de uma estranha maneira.” p. 166

Uma história que me comoveu, e cuja citação escolhida para a abertura ilustra na perfeição…

“Todos os sofrimentos são permitidos, 
Todos os sofrimentos são recomendados;
O que importa é seguir em frente, 
O que importa é amar. ”

Françoise Leroy,  Le Futur intérieur

Uma obra que aconselho a ler, especialmente se são aquele tipo de pessoas (não somos todos?) que se pergunta constantemente: “O que faria eu, se me saísse o Euromilhões?” Uma história que mexe com traumas, escolhas, e os resultados de ambas.

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