A vista sobre o relvado reluzente era difícil de abarcar num só olhar. Sentia o muro de pedra pressionar o estômago. O ar húmido permeava os pulmões. O sol tímido espreitava, por entre as nuvens, sem nos saturar com o seu calor.
Inspirei fundo.
Ao meu lado oiço: Consigo perceber porque se mudavam para aqui para escrever. Imagino-os aqui. Aliás, imagino-me aqui, sentada, a escrever todos os dias.
Eu também me imaginava ali. Não só naquele momento, de máquina fotográfica na mão, e olhar transfixo no espaço entre mim e o horizonte. Via-me com um bloco e uma caneta, sentada na relva, inspirando o ar fresco da montanha misturado em mar.
Trouxe esse sentimento comigo. Ir a sítios é uma boa inspiração para começar. Mas, quando cheguei a casa nada fiz para o pôr em prática.
Semanas depois, fecho os olhos, inspiro fundo e sinto-me ali. Contemplo o relvado. Vejo a vontade de pegar na caneta e no papel em mim. Sinto o mesmo que senti.
Mas a acção não vem.
Não me sento a escrever histórias. Algo ainda está desalinhado. Começo devagar. No sítio onde estou. Com este texto, com outros do género. Instigo-me a continuar. A não desistir.
Falta-me escolher por onde começar. O que abandonar. Que ideias perseguir. Que ficções apontar.
Demasiada realidade de uma só vez. Excesso de coisas. Muito trabalho. Cansaço.
Sento-me a escrever. Qualquer coisa. Este artigo. Um início de conto. Uma carta. Uma página de um journal. Sento-me a escrever e tudo se organiza e flui.
Parece-te bem? Senta-te a escrever e começa onde estás. Não importa quem vem. O que se faz com o texto. Qual o propósito ou finalidade.
Escreve uma carta a alguém… Uma frase inicial… Um artigo… Uma página de agradecimento… Algo sobre o que te rodeia neste momento…
A cada dificuldade invento algo para o qual escrever. E, desejo sempre, inspirar o ar fresco da montanha misturado em mar. Sentir a relva picar. Esquecer o mundo e relaxar.
E tu? O que fazes para começar?
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Um comentário em “Inspiração para começar”