Não sei se já vos disse, mas… gosto tanto dos escritos da Anne Lamott.
Sinto sempre que pude beneficiar da experiência de vida de alguém tão imperfeito como eu. Que não se esconde atrás de falsas imagens públicas. Que aceita, ou faz um show quando não aceita, as realidades da vida.
Alguém que não tem medo de escrever sobre as coisas como as vê, mesmo que nos soem a loucuras… ou empurrando-nos, com humor, a admitir que também as vemos assim.
Termino cada livro seu com aquela sensação que fui exposta a mais uma mão cheia de lições de vida. Aquelas que desejava ter aprendido com alguém próximo. Aquelas que desejava saber escrever. Aquelas ideias que só uma mentora em realidades da vida sabe passar.
Não me identifico com tudo o que ela escreve. A sua realidade não coincide com a minha em muitas coisas. E, ainda bem que assim é. Sei que não preciso afagar o ego com aquilo que os outros escrevem. Preciso de ideias novas e realidades diferentes. Não preciso apenas de ideias que corroborem as que eu já tenho, mas daquelas que me piquem o suficiente para pensar sobre elas, e tragam o valor da novidade.
Há um constante teor quase filosófico, nas suas obras, que enfrenta as realidades mais duras da vida com a procura daquela aceitação (que sei que sempre me falta) de tudo o que é mau durante a nossa existência como seres humanos. E, há sempre, o recorrer ao lado bom da vida para colocar em perspectiva o que acontece, quem somos, e o que podemos fazer com o tempo que nos é dado.
Estas “Notas sobre a Esperança” não me desiludiram. Foram tudo isto e mais.
Mais uma vez, Lamott toca todos aqueles pontos sobre a Sociedade, o Envelhecimento, o Amor, o Amor-Próprio, a Família, Deus, a Esperança, a Escrita o Riso, a Morte, o Sagrado, a Natureza humana, e tantos mais temas poderia nomear aqui.
Tantas lições condensadas em tão poucas páginas. E, humor. Tanto humor para nos ajudar a colocar em perspectiva este sentimento de desgraça iminente que a realidade política e social da actualidade despoleta em nós (em mim, pelo menos).
Um dos Capítulos que causou o maior impacto em mim foi, como não podia deixar de ser, o 6º sobre Escrever. Foi tão poderoso que me colocou a escrever num instantinho.
Não tenham ideias! Não há milagres aqui. Nenhum livro, ou seja lá o que for, nos vai por a escrever como se por milagre. Só nós o podemos fazer. Só as nossas escolhas diárias o podem fazer. Também este é um inside job.
E, a farpa devolvida à Joyce Carol Oates arrancou-me a maior gargalhada to livro inteiro… vá! uma das maiores.
Como escritora sei que, quer a nossa Voz, quer os Temas que focamos nas nossas obras, provêm das coisas em que acreditamos, assim como, daquelas que negamos com fervor. Muitas vezes, mais das segundas do que das primeiras. Vejo na obra de Lamott uma espécie de guia de viagem útil para ajudar a organizar aquilo que sou, em que acredito, e a afinar a minha Voz.
Se me acompanham há uns anos, sabem do falo. Se não o fazem, sugiro que revisitem este artigo aqui sobre a voz do escritor, e este aqui sobre o escritor ser um mentiroso, e os temas de que somos feitos (e outros que podem encontrar nos Recursos do Escritor).
Há uns tempos partilhei um vídeo: 12 truths I learned from life and writing | Anne Lamott nas TED Talks. Convido-vos a ver outra vez… eu fui fazê-lo. Ele contém ideias deste livro, e de outros, numa espécie de condensação de sabedoria apimentada de muito humor.
Convido-vos, igualmente, a revisitar o que escrevi sobre outros livros que li desta autora… a começar pelo fenomenal ‘Bird by Bird‘ e ‘Stitches‘.
Já leste? Qual a tua opinião?
[cryptothanks]