Opinião: “O Retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde

Oscar Wilde

“… para ele a vida era a primeira, a maior das artes, e todas as outras artes nada mais pareciam ser do que uma preparação para a vida.” – Oscar Wilde em ‘O Retrato de Dorian Gray’

O que posso dizer sobre esta obra?

“O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, é um clássico de pleno direito. Atribuí-lhe 5 estrelas. Mas desejava distingui-lo de outras leituras de 5 estrelas…

Pondero, agora, rever o meu sistema de categorização de qualidade usando uma escala de zero a dez. Estou farta desta limitação que me impossibilita classificar uma obra de acordo com nuances e beneficiando de outro tipo de exactidão. Gostava de poder fazê-lo usando o Goodreads, mas isto não será possível… e desvio-me do assunto em questão.

Publicado, pela primeira vez, numa revista mensal, em Julho de 1890, ofendendo as moralidades da época é, há muito, considerado um favorito do público, ao longo dos tempos, e por esse mundo fora.

E, assim se justifica este Prefácio… quem precisa justificar porque cria uma determinada obra de arte é porque, em algum momento, se sentiu atacado. E, segundo consta, Wilde foi bastante atacado devido a esta história, e por outras circunstâncias pessoais…

Não há livros morais nem imorais. Os livros são bem ou mal escritos. Nada mais. – Oscar Wilde no Prefácio de ‘O Retrato de Dorian Gray’

o retrato de dorian gray
Capa da Revista ‘Lippincott’s Monthly Magazine’, onde ‘O Retrato de Dorian Gray’ foi publicado em julho de 1890.

Começo pela minha edição… não me recordo onde, nem quando, adquiri este livro. Este facto é, para mim, muito esquisito pois costumo recordar-me das circunstâncias de adopção da maioria dos meus livros.

Marquei-o para ler há 8 anos atrás, no Goodreads, e ficou na estante à espera.

Este exemplar, em especial, sei que pertence à colecção 11×17 da Bertrand Editora, tem um tamanho de letra que não é simpático para a minha vista, e que a tradução para Português do Brasil deixou a desejar.

O retrato de dorian gray
O meu exemplar…

Entretanto, descobri que esta cena das traduções desta obra para Português, é uma espécie de tema sujeito a investigações e estudos vários. Mas não vou por aí… a tradução incomodou-me, e acredito que retirou uma certa quantidade de beleza frásica, que vi que era possível, e que tenho a certeza que encontraria no original.

De Oscar Wilde li ‘The Ballad of Reading Gaol‘, uma obra de poesia que me marcou, e o conto ‘O Crime de Lorde Arthur Savile‘ ao qual também atribuí 5 estrelas.

Ler o seu único romance, aquele que tantos elogios colhe por aí, pareceu-me o melhor a fazer. E, não me enganei.

São nas primeiras páginas que encontramos assuntos em que pensar…

Que esquisitos vocês são, os pintores! Fazem tudo para criarem fama. Apenas a têm, parecem apostados em a atirarem fora. É uma tolice, pois só há no mundo uma coisa pior que falarem de nós: é ninguém falar de nós. – Oscar Wilde, ‘O Retrato de Dorian Gray’

… ou…

Mas a beleza, a verdadeira beleza, termina onde começa a expressão intelectual. A inteligência é em si um modo de exagero e destrói a harmonia do rosto. Quando uma pessoa se senta para pensar, torna-se toda nariz, ou toda testa, ou alguma coisa horrenda. – Oscar Wilde, ‘O Retrato de Dorian Gray’

Fama, beleza, arte, igreja, distinção intelectual, prazer, romance… tantos temas, tantas coisas são ditas de uma forma que nos arrancam gargalhadas. Argumentos que fazem sentido e, outros, cujo sentido compreendemos, apesar de se limitarem a escolhas filosóficas e morais.

Vi um filme, há bastantes anos atrás, e perguntava-me como o livro fazia a transição daquilo que me pareceu uma maldição aberta, causada por um retrato e uma certa auto-condenação moral pelo primeiro acto imoral.

De lá para cá, vi inúmeras referências a esta história, culminando num desfecho em que seria o confronto de Dorian com a evolução da própria imagem, exposta na pintura, que seria o selo final na sua travessia para a morte.

Não foi nada disto que aconteceu. Ou, pelo menos, não assim… foi muito mais discreto e muito melhor… mas não farei spoiler.

Tem-se, e com muita justiça, denegrido o culto dos sentidos, pois os homens sentem um natural instinto de terror pelas paixões e sensações que se lhes afiguram mais fortes do que eles e que eles têm a consciência de partilharem com as formas inferiormente organizadas da existência. – Oscar Wilde, ‘O Retrato de Dorian Gray’

Nem houve uma apologia às vivências imorais, nem uma condenação que não se entendesse subjacente, para aqueles que desejem ir por aí. Um texto que se apresenta tão bem trabalhado, quanto o olhar do leitor o permitir, já que alusões e inferências atingem melhor o objectivo do que declaradas descrições de vícios ou faltas.

Mas, não são tudo coisas boas. Notei alguma palha, partes que mais pareciam discursos, em especial na voz de Lorde Henry e em partes de Dorian Gray. Palestras em que se contam os pontos de vista, que servem de entretenimento explicativo, para o que acontece em dado momento da narrativa.

Mas, a Oscar Wilde perdoo-lhe quase tudo.

A apresentação de argumentações tão distintas, que entram em conflito entre si, com as quais concordamos em absoluto ou, se discordamos, pelo menos, compreendemos do ponto de vista racional, é de uma mestria exemplar.

Todo o efeito que produzimos gera-nos um inimigo. É preciso ser medíocre para ser popular. – Oscar Wilde, ‘O Retrato de Dorian Gray’

E, é sobre a natureza do homem, as virtudes, os vícios, as formas de viver o amor e o compromisso, a beleza, a riqueza, a felicidade, a morte, o medo, e tantos outros temas, de que nos fala esta obra. Adorei! Adorei.

Nós, as mulheres, como diz alguém, amamos com os ouvidos, precisamente como vocês, os homens, amam com os olhos… se é que alguma vez amam. – Oscar Wilde, ‘O Retrato de Dorian Gray’

Fiquei cheia de vontade de ler a versão inglesa desta obra. Retirar um pouco da irritação que esta tradução me provocou e apreciar, um pouco melhor, a cadência do que foi escrito.

Estou consciente de que muito há a retirar desta obra e que pouco consigo ver só numa leitura. Há todo um conjunto de ideias, e considerações, que nos servem aos dias de hoje, independentemente, de ter visto a luz do dia em 1890. 132 anos nos separam e tanto permanece inalterado.

… eram pessoas extremamente antiquadas e não compreenderiam que nós vivemos numa época em que as coisas desnecessárias são as nossas únicas necessidades; – Oscar Wilde, ‘O Retrato de Dorian Gray’

E, só para terminar, escolhi esta última citação que penso não necessitar de explicação…

Mas ensinaria o homem a concentrar-se nos momentos de uma vida que é, ela própria, um momento apenas. – Oscar Wilde, ‘O Retrato de Dorian Gray’

Já leram este livro? O que acharam? Aconselham outros?

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Referências:

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