Olá! Sê bem-vindo a este [vida criativa].
Este é um artigo sobre a mensagem da arte, sobre o poder de escolha, sobre os nossos deveres para com a sociedade organizada como construtores criativos, sobre teorias mais ou menos científicas, sobre livros e outras artes, sobre raça, sobre o genoma humano, política e dinheiro. Este é um artigo sobre o poder combinatório das ideias e o nosso dever de tentar fazer sentido desta realidade presente.
Fiquem comigo, pela articulação de ideias e, convido-vos a explorar as ligações externas, neste artigo, para cada tema.
Começo por Raça.
Sabiam que, houve um verdadeiro fenómeno em que, as pessoas negras que tinham uma cor de pele mais clara, costumavam exercer grandes esforços pessoais para serem vistas pela sociedade como brancas?
Avanço já a minha opinião, porque não desejo ser mal interpretada em assuntos sensíveis: entendo porque acontecia, e sei que era necessário ou, mesmo o melhor a fazer, em em certas épocas, e em certos locais… e, acredito que, ter de o fazer é de uma violência pessoal inexplicável e fruto de uma sociedade assente no que é condenável na natureza humana.
Também vejo o argumento: devemos sacrificar-nos por quem somos, e pelos nossos, e como este fenómeno era mais uma forma de exclusão social dentro da própria comunidade. Mas, a própria pele ter um tom menos semelhante ao da comunidade, também é causa para se ser excluído do grupo.
Há uns tempos, cruzei-me com o enredo de ‘Passing’ por Nella Larsen (que ainda não li, mas que está na minha lista). Esta é um história que se constrói sob esta premissa de se ‘parecer ser, para se poder ser’.
Este tipo de fazer de conta, tem tido iterações mais complexas, em certos países, do que noutros. As realidades culturais de cada país potenciam este fenómeno de formas diferentes.
E, também sei que, nos séculos que nos antecederam, identificamos autênticas obras que se propuseram a ser científicas mas terminaram, apenas, como as bases das teorias eugénicas que sustentaram variados actos de maldade humana e, que ainda alimentam a segregação e o racismo.
Relembro (ou informo) que, fui estudante universitária de Sociologia, pelo que estudei os inícios destas teorias sociológicas… com entusiasmo moderado, confesso. Daí, algumas das referências neste artigo.
Menciono parte do documento ‘Genética e Cidadania‘, organizado por Helena Machado, publicado pelas Edições Afrontamento, em 2017, (ISBN 9789723615739) com o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, que podem ler 22 pág. de 230 aqui… é um bom recurso, e apresenta a bibliografia, para quem esteja interessado em pesquisar.
E, diz que, o termo ‘reducionismo‘, que nomeia as afirmações eugénicas, parece-me auto-explanatório.
Cito o artigo O equívoco do genoma, por Fernando Ilharco, publicado no jornal ‘Público’:
“Diversos dados têm mostrado que quaisquer dois indivíduos são em mais de 99,9 por cento idênticos na sua sequência genética”, lê-se no “paper” da “Science” assinado pela equipa de Craig Venter da Celera Genomics.” — Público
Sendo que, este artigo, tem muita informação digna de ser investigada e compreendida. E, a teoria da ‘complexidade’ vai mais de acordo com as minhas sensibilidades pessoais.
“A perspectiva da complexidade é a contrária do reducionismo. Nesta última, as partes explicam o todo. Na primeira, o todo explica as partes. Na complexidade, as funções que cada elemento desempenha no todo a que pertence dependem da posição, das interacções, e da história que faz esse mesmo todo ser como se encontra em cada momento; ou seja, e como sugere o “paper” da Celera, as interacções são dependentes do contexto.” — Público
E, o contexto é sempre o mesmo: Económico… também conhecido por Dinheiro… mas, nisto, divago.
Ocorreram-me diversas histórias e conheço, mesmo, fruto das nossas políticas ultramarinas e desejos de conquista de África, quem padecesse do problema inverso: não eram negros em suficiência aparente, para poderem permanecer em segurança, no país que era a sua pátria.
Mas, não sou, de todo, a pessoa mais educada, ou politicamente correcta, nestes assuntos para fazer grandes alegações. Só posso escrever sobre aquilo que experienciei, através de pessoas com quem me relacionei, ou dos livros e manuais que li, por opção ou obrigação.
E, com isto, só pretendo entender o que nos torna a nós, humanos, tão desumanos quando os fins justificam os meios.
E, estes argumentos todos, porquê? Fiquem comigo.
Já sabem que, neste blog (e não só), vivo para uma articulação complexa de temas correlacionados.
Há umas semanas li ‘The Cloisters‘ por Katy Hays. E, falemos de personagens complexas, com moralidades comprometidas e escolhas dúbias.
Esta é uma história que se compõe de características tão humanas, como desumanas, e que me surpreendeu. Não sei bem do que estava à espera mas, de facto, não fora daquela(s) reviravolta(s). Acho que, até ao fim, eu não acreditei que o que elas mostravam ser, era o que elas eram… e, fiquei à espera das qualidades redentoras…. ainda estou à espera, semanas após o término do livro.
O enredo passa-se no Museu chamado The Cloisters em Nova Iorque, parte do MET. No site Culture Trip encontram uma breve descrição histórica deste museu e da sua existência em Manhattan.
Cito do site Culture Trip:
“These cloisters were excavated from France and rebuilt in NYC between 1934 and 1939 and are now surrounded by chapels and rooms filled with art from the time.”
Se ainda não leram ‘The Cloisters‘ por Katy Hays, recomendo. É ilustrador de muitas características humanas, e uma história interessante, sobre arte e cartas de tarot. Como bónus, temos uma série de referências específicas para pesquisar.
Este livro tem uma ligação muito profunda à Biblioteca e Museu Morgan, pelo que, a pesquisa levou-me a Belle da Costa Greene, figura central na curadoria do Morgan Library & Museum em Nova Iorque, primeiro na Biblioteca particular dos Pierpont Morgan e, depois, como directora da Biblioteca e Museu público.
Podem ler, quase tudo, sobre esta bibliotecária no site do museu aqui… e tenho muita curiosidade sobre os ensaios/livro que ela escreveu.
Belle da Costa Greene foi a bibliotecária particular do banqueiro J. Pierpont Morgan, e do seu filho, e assegurou o crescimento saudável da colecção de livros raros e manuscritos, durante 43 anos. Ela transformou uma colecção privada num recurso de importância pública que, ainda hoje, se mantém como essencial à pesquisa, exibições, palestras e publicações. E, Belle, desde a sua adolescência que passava — ela, e os seus pais — por brancos.
Confesso que, apesar de me ter cruzado com o tema, não tinha noção do verdadeiro impacto disto.
Negar quem somos, faz com que sejamos… quem?
E, este é um tema interessante em literatura, e nas artes em geral.
Como escreveu Emily Dickinson:
Este poema que, também encontram, no site do The Morgan Library & Museum aqui… e, que brinca com o tema de ser melhor mantermos o silêncio porque senão seremos expulsos do grupo. Porque não somos ninguém, mesmo que sejamos mais do que um só elemento. Porque ser-se reconhecido pelo grupo, também não é melhor. É só um lamaçal, que observa um só sapo, que se atreveu a ser alguém.
Sermos alguém, reconhecido pelos outros, preferencialmente, pelos melhores motivos, propõe uma série de desafios particulares. Mas, acredito que, é na comunicação através da literatura, e das artes, que temos o dever de apresentar a nossa visão do mundo.
Mas para isso, é preciso termos uma visão do mundo. E, é preciso sabermos coisas, como diz Fran Lebowitz. Daí, a importância de irmos em busca de conhecimentos, de referências, e de formar as nossas ideias sobre os assuntos.
Ocorrem-me as obras de Anselm Kiefer, pintor e escultor alemão, cuja obra é impressionante e foi imaginada, e influenciada, no rescaldo da 2ª Guerra Mundial. Podem ver um curto vídeo sobre Kiefer e a sua obra aqui…
Também, não é a primeira vez que escrevo sobre a importância da arte de Kiefer nas nossas. Podem ler aqui…

No artigo da semana passada, assim como em muitos outros, procurei reiterar algumas ideias sobre a importância que cada um de nós, como construtor criativo e como escritor, temos com aquilo que escolhemos colocar nas nossas obras de arte. Escrevi e mantenho:
“Com as nossas artes vêm responsabilidades acrescidas: compreender, reter, transpor, simplificar, combinar, comunicar, relacionar e melhorar. Temos o poder de ilustrar e combater todas as ideias que não nos parecem (de) bem…” — no artigo ‘o dever de fazer melhor‘
Não é por acaso que, quando o conflito escala, a arte inconveniente — banir livros, dinamitar esculturas milenares, retirar fundos à investigação científica e ao conhecimento (porque é preciso muito trabalho de criação para avançar o conhecimento científico)… — é das primeiras coisas a ser erradicada na sociedade.
Acredito que, os construtores criativos têm um papel importante na sociedade. O papel de observar, pensar e re-imaginar tudo aquilo que não nos parece bem. O papel de considerar sobre os valores que nos sustentam, as verdades que precisamos expor e o que desejamos corrigir para melhor.
Retirar a liberdade e o acesso, delapidar a educação e a saúde, eliminar o serviço público em fazer dos valores privados, faz das pessoas fantoches nas mãos de quem aparenta argumentar melhor.
Não queremos, obrigada! Deixem lá.
A arte e o acto de criação têm um papel determinante. E, diz que, as nossas palavras podem estabelecer o Caminho de muitas ideias — é só olharmos para a teoria de determinação de raça, e vermos os danos que tem provocado — (sobre o conceito de Raça, e sua evolução, podem começar por aqui…). E, são essas ideias que podem levar à mudança.
E, comecei a ler o capítulo disponível do livro ‘On Critical Race Theory: Why It Matters & Why You Should Care’ por Victor Ray. Pareceu-me interessante e pondero adquiri-lo para ler o restante.
Ideias melhores encontram-se na combinação da pesquisa com a leitura crítica. Encontram-se na lógica, na verificação dos motivos que fundamentam os argumentos. Validamos ou contrariamos o que lemos, procuramos a razão por trás dos argumentos e fundamentamos as opiniões em factos.
Mesmo começando por uma pesquisa de termos simples. Ou uma lista de pessoas relevantes para uma certa área de conhecimento… qualquer procura efectuada dará mais resultados do que aqueles que conseguiremos aprofundar durante uma vida inteira. É começar. Começar por algum lado para que, seguir o plano dos outros, não passe a ser “o nosso plano”.
Para compreendermos o que há, e o que é. Para podermos lutar pelo que queremos que seja. Para deixarmos aos nossos filhos algo de maior valor do que um mundo em auto-destruição, pejado de medo e actos de estupidez humana. Para lhes podermos legar o Poder da Escolha.
…
E, às portas de uma queda de governo, vamos lembrar-nos que, retórica incentivadora de violência desproporcionada, e desprovida de valores morais, não é o caminho por onde queremos seguir como sociedade.
Se estes senhores não nos representam, cheguem-se à frente com mais valor do que o está ali, em exposição pública.
Mas, acautelem-se para não trocar o ‘versado em Política como profissão’ pelos ‘bobos da corte de desejosos de encherem os próprios bolsos’. É só olhar em volta, e observarmos os exemplos, por esse mundo fora.
Obrigada! Mas, NÃO. Não, muito obrigada!
…
Obrigada e Até Breve!