O Papel de Parede Amarelo de Charlotte Perkins Gilman

o papel de parede amarelo

Olá! Sê bem-vindo [à minha Biblioteca].

Há meses que oiço falar do livro “O Papel de Parede Amarelo”, de Charlotte Perkins Gilman. Encontrei uma edição ilustrada, em segunda-mão (mas nunca lido, como a encadernação demonstrava), que me proporcionou uma leitura fácil (bom tamanho de fonte) e aprazível.

Acredito que, nunca um título de um livro, se predispôs a tantas hipóteses e variações de arte para a capa. Há centenas de papéis de parede amarelos que podemos imaginar como sendo este da história… e, assim, há uma variedade de capas para este conto.

No entanto, nenhuma das capas me trouxe a sensação de amarelo-adoentado que ele requeria.

Pergunto-me se alguém tentou desenhar este papel de parede, com as informações na história e os existentes à época. Seria um exercício grotesco, e bonito, em simultâneo (acho que encontrei um candidato, que usei na imagem de título deste artigo).

Neste conto, Ela não tem nome. Mas, é casada com John. Ele, e o irmão dela, são médicos e declararam que a doença nervosa que ela tem não existe… existe, mas não é grave… não existe, mas ela tem de se tratar com isolamento social, controle de todos os seus actos e um fingimento profundo para parecer ser quem não é.

Qualquer actividade física ou intelectual é reprovada, e controlada pela irmã de John, que vive com eles para poder fazer o trabalho, que seria dela, se não estivesse (não) doente.

***

Diz na contra-capa:

“Conto publicado no final do séc. XIX, O Papel de Parede Amarelo retrata a história semiautobiográfica de uma jovem mulher deprimida, recentemente mãe. O marido, John, pro sinal médico, demonstra grande incapacidade para entender o que se passa com ela, em larga medida ele próprio preso nos perímetros culturais da época.

Na esperança de poder ajudá-la, John muda-se temporariamente com a mulher para uma outra casa, bonita, campestre, onde tentará recuperar a paciente com ar puro e repouso de qualquer tipo de trabalho. A mulher, sentindo-se presa, sem opções para a sua imaginação e criatividade — ademais num quarto com uma decoração que a incomoda — vai ficando cada vez mais perto da loucura.

Narrado na primeira pessoa, O Papel de Parede Amarelo é um dos mais importantes textos da literatura femininista americana, e global, entrando aprofundadamente nos sinuosos caminhos das perturbações mentais provocadas a mulheres que, afinal, são apenas impedidas de ser o que são.”

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Eu, a ler este conto, pensei que isto poderia estar a ser escrito hoje. Que as coisas que as pessoas dizem, em resposta a uma qualquer condição mental são as mesmas hoje, que eram há tantos anos atrás…. Pelo menos, as respostas daqueles que desconhecem os meandros dos padecimentos femininos.

Não será apenas o facto das mulheres serem diagnosticadas com doenças incomuns, por falta de esclarecimento sobre o mal que a pressão desmesurada exerce sobre uma pessoa. Não é o profundo desconhecimento sobre a saúde biológica e hormonal de uma mulher, em especial, após o parto. Não pode ser o retirar do poder de escolha, da liberdade, de agência sobre si própria e os seus actos. Não. Não é nada disto…

Ela, em isolamento, com grades nas janelas, a sós durante horas, sem liberdade para ir sequer ao jardim sem pedir permissão, impedida de dar qualquer opinião, até por escrito. Ela, com o crescente sentimento de reclusão, afastada de outros, consciente que devia ser saudável, sem poder escolher nada sobre a sua situação, ou existência… todos estes, são motivos para a perda de confiança em si própria, e para o aparecimento da galopante ilusão, que a distrai do que a sua vida é.

Não sentir que se tem agência sobre si próprio, não se ter escolhas sobre a própria vida, ser relegado para uma qualquer irrelevância existencial em todos os domínios em que a opinião é (não é) requerida, sentir que os desafios que se tem não são aqueles que se tem força para ter, acreditar que se deveria estar a viver algo de outra forma, mais parecida com o que os outros pensam, e estar rodeado de gente que não tem qualquer noção da necessidade de se afastar, e permitir que cada um tome as suas decisões… uma história intemporal, descrições memoráveis e, sinceramente, o final é de conjugação de hipóteses de resolução.

Confesso que, pensei que o final seria um, aparenta ser outro e, ainda não me convenci que terminou assim. Para mim, parece ter terminado de uma forma que, entendi ser, de força bruta (menciona um pedaço de corda, não é?!). Mas deixo-vos a liberdade de contemplarem (re-imaginarem) como termina para vós.

Um conto para 5 estrelas, tão simples como complexo, que me deixou a pensar na vida como ela foi e é… é só ir ao médico, com uma qualquer queixa tipicamente feminina, e verificar o que mudou.

Um livro giganto-pequenino que adicionei à minha biblioteca pessoal. Recomendo.

Obrigada e Até Breve!

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