Todas as histórias são contadas por alguém. Esse alguém chama-se narrador e é a entidade que apresenta o decorrer dos acontecimentos ao leitor.
É papel do autor definir quem será o narrador ou qual a melhor perspectiva para contar determinada história. É o autor que cria o universo onde a acção tem lugar e é ele que define qual o ponto de vista ou perspectiva sob o qual a história será contada.
Para escolher um narrador (ponto de vista ou perspectiva), é muito importante ter em atenção duas coisas:
* O Objectivo ou Mensagem da história
* Conhecer intimamente as Personagens
É o conhecimento aprofundado destes dois aspectos que nos ajuda a escolher quem irá narrar a história: um personagem secundário, o protagonista ou um narrador-espectador.
Há 6 tipos de pontos de vista que o narrador pode usar ao contar a história. Neste primeiro artigo da série, deixo-vos aqui umas breves notas sobre o narrador na primeira pessoa, com alguns exemplos.
1. Primeira Pessoa:
O narrador é uma personagem na história. Cada cena é narrada do ponto de vista de uma só personagem e o autor escreve como se fosse essa personagem, e apenas essa, em cada uma das cenas. Usa o pronome “Eu” ou, no plural, “Nós”. A narrativa na primeira pessoa é útil para mostrar os pensamentos do narrador aprofundando aquilo que o leitor sabe sobre a personagem.
A vantagem é a facilidade do leitor em identificar-se com a personagem e, consequentemente, sentir-se envolvido na acção. O narrador trá-lo para dentro da história e torna-o parte da vivência da personagem.
A desvantagem é a limitação de perspectiva sobre os acontecimentos. Uma só personagem não tem acesso à acção que decorre em vários sítios, com várias personagens, ao mesmo tempo. Há um conjunto de vivências que o narrador não testemunha e não pode usar a seu favor.
A ter em atenção é a possibilidade de usar uma perspectiva pessoal própria, ou seja, o narrador pode ser tão tendencioso ao narrar a história quanto a sua percepção distorcida dos eventos o permitir. Nem todas as personagens principais estarão sempre correctas, serão virtuosas, ou sequer sãs. Ele dá-nos a sua visão do mundo com todas as falhas que pode ter.
Alguns excertos de obras escritas na 1ª Pessoa:
‘Olho para o chão. O copo estilhaçado fere a minha mão e mistura o sangue com o vinho rubi na terra. Ergo os olhos, à medida que os ferimentos saram rapidamente. Mas os da minha alma mantêm-se abertos como uma ferida de guerra.’ ‘Memórias de um vampiro’ de Rafael Loureiro.
‘Para ter alguma hipótese de alcançar a arma a tempo, tive de me virar de costas para a bruxa. Quando já estava de costas para ela e com a mão debaixo da almofada, senti as garras arranharem as minhas costas despidas. Gritei, ainda à procura da arma. Mãos com garras envolveram os meus braços e atiraram-me para o chão.’ ‘O Beijo das Sombras’ de Laurell K. Hamilton
‘Levantei-me e fui para a varanda e pus-me a ver as danças na praça. O mundo já não andava à roda. Estava até muito límpido e luminoso, apenas com tendência a esfumar-se nos contornos. Lavei-me, penteei o cabelo. Achei-me estranho e desci à sala de jantar.’ ‘O Sol nasce sempre’ de Ernest Hemingway
Usam este tipo de narrador nos vossos escritos? Quais as limitações que encontraram ao usar a 1.ª pessoa?
Querem saber mais sobre os tipos de narrador/ponto de vista usados? Sigam o blogue e não percam os próximos artigos dos ‘Recursos do Escritor’.
Φ
Artigos Relacionados:
Recursos do Escritor: De que são feitas as histórias
Recursos do Escritor: Os 8 pontos da Revisão de Texto
Recursos do Escritor: A importância do leitor de rascunhos
ΦΦΦΦΦ
Gostaram deste artigo? Então subscrevam este blogue e recebam todas as novidades por e-mail.
Deixem aqui os vossos comentários ou enviem e-mail para: [email protected]
Já tenho experimentado tanto homodiegético como autodiegético. Gosto de fazer experiências, nas micro narrativas, com narradores homodiegéticos, uma vez que se vê menos.
Quando uso a 1ª pessoa não gosto que ela seja omnisciente. Claro que a personagem pode estar a contar depois de tudo ter acontecido e já ter toda a perspectiva, mas acho que perde a piada. É mais giro quando vai descobrindo e se desilundindo…
Um selo para ti: http://www.olindapgil.com/2013/02/dois-selos.html