É difícil começar. Todos os dias, é difícil começar. Mesmo quando há um projecto em andamento. Mesmo quando há vontade.
Uns chamam-lhe Resistência (Resistance). Outros, bloqueio de escritor. Alguns, energias acumuladas ou stress. Eu, no meu charmoso calão, chamo-lhe uma real trampa ou uma rica m****.
Todos os dias é difícil começar. Pensamos em Rituais de arranque. Algo que nos ponha com o humor adequado. Que dê o empurrão para começar qualquer coisa. Uma pessoa já nem é esquisita. Começar uma coisa, qualquer coisa, o que seja.
Muitas pessoas deparam-se com mais dificuldades criativas quando a vida avança. Quando já não temos vinte anos e começar algo inconsequente nos soa a… disparate. Sim, porque a partir de certa idade começamos a acreditar que sonhos são disparates.
Porque passa a nossa arte a soar a disparate? Porque perdemos a capacidade de sonhar? Porque abandonamos as brincadeiras inconsequentes que nos predispõem a criar? Porque damos ouvidos ao crítico interior ou exterior? Porque temos vergonha da própria Arte? Porque nos sentimos culpados? Porque nos importamos com que os outros pensam?
Há uma roda de rato para cada um de nós mas só corre quem quer. E, esta sociedade é feita de rodas, encaixes e engrenagens. Logo, na nossa vida Criativa há que Simplificar e usar o que funciona naquele momento.
Não há uma solução para todos. Ou a mesma solução repetida. A chapa 3 não existe ou sequer funciona.
Há dias, ao mostrar o que havia feito num projecto infantil, chamaram-me à atenção de nunca ter dito que sabia desenhar. Eu não sei desenhar. Eu acho que não sei desenhar. Rabisco umas coisas, se for à vista.
Eu gosto de rabiscar umas coisas. Fazer uns projectos para isto ou aquilo. Mas, eu não sei desenhar. Eu não informo as pessoas que vou desenhar porque eu não sei desenhar. Não é a minha Arte. Mas eu gosto de rabiscar umas coisas. Eu gosto de criar, também em desenho. Mas, isso, não é saber desenhar.
Mas adoro Criar. E, se hoje é preciso desenhar, é o que será.
Num período em que o cinismo das nossas vidas, ditas modernas, de corre para o trabalho, segue para a creche, compra comida, prepara cenas, faz limpezas, vive a mil à hora… quem tem tempo para Sonhar? Quem tem tempo para Criar ou Desenhar? Quem tem tempo para Ser? (Bolas! Pergunto-me quem tem tempo para dormir???)
A Arte é esmagada pelo apressar. Tudo apressar. Share on XQuem tem coragem para abandonar as vistas curtas? Sim, a janela do escritório pode não ser panorâmica mas não precisamos toldar os olhos.
A maioria dos adultos, das pessoas que já foram de tal forma absorvidas pela rotina da correria, já não conseguem sonhar. Determinados a sentir tudo com ar de quem viu e se desiludiu. Portadores das feridas, e detentores das dívidas, a quem não é permitido Sonhar ou Criar.
Pessoas mais velhas nem conseguem começar algo criativo porque têm medo de errar. Especialmente mulheres. Porque o tempo gasto em embelezamentos exteriores é, de longe, mais importante do que os interiores. Porque seremos sempre julgadas pelo exterior. Porque nos sentimos perdidas e em conflito com os nossos valores.
Difícil é começar a criar qualquer coisa. É quando encontramos mais Resistência. Nós somos a nossa própria resistência. Causamos atrito entre o que somos e o que aprendemos a ser, neste mundo de quem não quer ser nada que se destaque, nem igual a todos os outros.
Importante é reter que não interessa porque queremos fazer algo. Não há necessidade de justificar o porquê da nossa arte.
Importante é crer que temos toda a liberdade para Criar. Temos tempo para Escrever, para Ser, para Gerar. Temos força para abafar o cínico que a sociedade nos força a adoptar. Temos vontade de Criar.
Não sei se vos acontece mas, os tempos que passo sem Criar são uma pressão que se acumula, que se junta, que vai ocupando espaço até já não conseguir contê-la. Uma imagem da panelinha de pressão surge sempre cada vez que penso nisto.
Aprender a descontrair, a calar o cínico, a perseverar. Encontrar opções, estratégias, bocadinhos roubados ao dia. Fazer o tempo e usá-lo em favor dos nossos gostos e valores.
Descobrir o que se gosta, o que inspira e, roubar uns minutos para o transformar num Ritual. Encontrar algo que seja um gatilho, o gatilho da nossa arma criativa, que nos predisponha quase automaticamente a Criar. Um vídeo, uma música, um exercício de palavras, uma leitura, um blog, uma forma de vida, algo que nos impulsione a combater a Resistência inicial e a vencer o atrito.
Depois de estarmos em movimento a inércia toma as rédeas e podemos manter-nos a Criar.
Há uns dias deparei-me com o conceito de trabalhos de casa criativos. Quando era miúda, eu gostava de TPC’s. Aliás, devia ser das poucas que adorava,secretamente, a ideia de TPC’s. Garantia que eu não ia procrastinar. Garantia que eu podia tentar fazer algo criativo. Obrigava-me a dar atenção a algo fora da escola, e a aprender por mim, sem a habitual injecção de blá, blá, blás, das aulas. Dava-me rédea e espaço pessoal para aprender e para crescer.
Agora, deparo-me com a ideia e penso que é uma boa oportunidade. É trazer o nosso trabalho criativo para o ponto focal. É arranjar um espaço no qual somos obrigadas a Criar. É definirmos uma prioridade e arranjarmos o tempo para a concretizar.
É simplificar o trabalho Criativo.
Focar. Libertar. Executar. Share on XE tu? Qual é a tua Arte? Qual é o teu Ritual para Criar?
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3 comentários em “Rituais para Criar, Simplificar e Concentrarmo-nos na nossa Arte”