A importância de uma Poderosa Experiência Emocional

a importância de uma poderosa experiência emocional

Poderosa Experiência Emocional. O que Escreves é uma Experiência Emocional Poderosa?

Vamos por partes…

O que é uma Experiência?

Diz o Dicionário que é um ensaio, prova ou tentativa. Um conhecimento adquirido por prática, estudos, observação. Experimentação.

Diz a Enciclopédia que Experiência é o conhecimento das coisas adquirido pela prática e observação.

O que significa Emocional?

(Algo que metade de nós é acusada de ser, sob pena de grandes vergonhas, e a outra metade é acusada de ser incapaz de o ser)

Diz o Dicionário que Emocional é aquilo que produz emoção. Emotivo.

Diz a Enciclopédia que Emoção (por falta de Emocional) é um estado psicorgânico, de tonalidade afectiva intensa, caracterizado por perturbação súbita e passageira.

O que significa Poderosa?

No Dicionário vem como algo que tem poder. Rico. Grande, Excelente. Activo, Eficaz.

Na minha Enciclopédia só existe a definição de Poder. E, não se relaciona de todo.

Qual é o Objectivo do que escrevemos? O que desejamos que aconteça aos que lêem o que escrevemos?

Oferecer ao leitor uma Poderosa Experiência Emocional Poderosa.

Desejamos que o leitor tenha uma excelente experimentação emotiva. Que sinta raiva. Que seja ódio. Que vibre com amor. Que se desiluda, regozije ou excite à medida que as personagens o experienciam também.

Quando lemos queremos ser apanhados numa observação rica em emoções e conteúdos. Queremos conhecer experiências diferentes, cheias das diferentes emoções que existem, que nos causem estados de perturbação súbita (e passageira).

Isto está, intimamente, relacionado com a capacidade de distinção, e com a utilização inteligente de Mostrar e Contar (podem ler mais sobre isto aqui…). Entregamos uma emoção ao leitor, de forma fácil, se o colocarmos na situação da personagem, ao invés de lhe dizermos o que aconteceu e o que ele deveria estar a sentir.

Quando escrevemos temos de considerar se cada cena provoca no leitor a emoção adequada. Como aquela consideração:

“A boa escrita deve provocar no leitor não a sensação de que está a chover, mas a sensação de estar molhado” E. L. Doctorow

É preciso construir os crescendos de emoção. Pensar nas formas como experimentámos essas vivências e traduzi-las para as sensações com maior impacto.

Dizer que o herói foi destruído pela perda da família que ele amava, ou mostrar a destruição que a perda familiar provocou, são duas coisas tão distantes uma da outra como gelados e cavalos.

Vamos a exemplos:

As danças das flores eram extraordinárias, leves e lentas.

Primeiro, as flores formavam uma grande roda. Depois, a roda desfazia-se e transformava-se em estrela. E o lugar onde Florinda estava era o centro da roda e o centro da estrela. Mas logo a estrela, girando, leve e lenta, se dividia em muitas estrelas. Depois cada estrela ia formando uma nova figura: umas transformavam-se em círculos, outras em losangos, outras em figuras mais complicadas. E cada vez que aparecia uma figura nova, Florinda dizia:

– Ah!

E o Rapaz de Bronze ia-lhe dizendo os nomes das figuras da dança.

Por fim, girando lentamente, as flores tornaram a formar uma grande roda, e a dança acabou.

Continuamente da escuridão do parque surgiam mais flores.

Mas a Tulipa ainda não tinha chegado.

– As danças das flores são extraordinárias e diferentes – disse Florinda. – Eu dantes não sabia que as flores dançavam. Na escola ensinam-me muitas coisas. Mas isto não e tinham ensinado.

– Não te ensinaram porque não sabiam. Poucas pessoas sabem estas coisas. – Sophia de Mello Breyner Andresen em “O Rapaz de Bronze

 

Muito diferente de afirmar “e as flores dançaram” ou algo do género… Desde a primeira página que os sentimentos que nos invadem são o deslumbramento, a doçura de conhecer um mundo diferente, em que tudo o que há num jardim tem uma vida paralela àquela que conhecemos. O aspecto da flor constrói a sua personalidade. A vivacidade de uma história simples relembra-nos o que sentíamos em crianças quando brincávamos na natureza.

 

Matt não ligou a luz. Subiu os degraus, um a um, evitando o sexto, o qual rangia. Agarrou-se ao crucifixo, e a palma da mão encontrava-se suada e escorregadia.

Matt alcançou o cimo das escadas e virou-se silenciosamente para olhar ao longo do corredor. A porta do quarto de hóspedes encontrava-se entreaberta. Matt deixara-a fechada. Lá de baixo vinha o regular murmúrio da voz de Susan.

Caminhando com cuidado para evitar um rangido, foi até à porta e parou em frente desta. A base de todos os medos humanos, pensou. Uma porta fechada, ligeiramente entreaberta.

Estendeu a mão e empurrou-a.

Mike Ryerson encontrava-se deitado na cama.

O luar inundava o quarto através das janelas e prateava-o, transformando-o numa lagoa de sonhos. Matt abanou a cabeça, como que para aclarar as ideias. Quase parecia que recuara no tempo, que se encontrava na noite anterior. Matt desceria as escadas e telefonaria a Ben porque Ben ainda não fora parar ao hospital…

Mike abriu os olhos.

Estes cintilaram por instantes ao luar, prata orlada de vermelho. Estavam tão vazios como quadros de ardósia lavados. Não havia qualquer pensamento ou sentimento humano neles. Os olhos são as janelas da alma, dissera Wordsworth. Se assim era, estas janelas davam para um quarto vazio.

Mike sentou-se, caindo-lhe o lençol do peito, e Matt viu as pesadas costuras industriais onde o médico-legista ou o patologista reparar o trabalho da autópsia, talvez assobiando enquanto cosia. – Stephen King em “A Hora do Vampiro

 

Medo. Este foi o livro em que saltei do sofá quando li algo como a luz acedeu. Impressionabilidade à parte, escrever uma história em que os sustos estão nas coisas mais simples, em que os sentimentos de inevitabilidade e horror crescem a cada pormenor, é fenomenal. Este livro foi, sem qualquer dúvida, uma poderosa experiência emocional.

 

Parou, tenso. Não conseguia ver muito bem, mas tinha a certeza de que não estava sozinho. Quem quer que fosse estava mesmo ao pé dele, à sua esquerda. E era um estranho.

Voltou-se e puxou a figura da porta, agarrando-a pela garganta, de maneira a forçar o corpo a entrar no quarto. Percebeu demasiado tarde que se tratava de uma mulher, sendo que as tentativas por parte dela para conseguir respirar o deixaram envergonhado. Aliviou rapidamente o aperto, sem a soltar.

O pescoço fino que se encontrava debaixo da sua mão era quente, macio. O pulso era frenético, o sangue que vinha do coração corria-lhe a mil nas veias. Ele inclinou-se e cheirou-a. Caiu para trás.

Meu Deus, era uma humana. E estava doente, provavelmente a morrer.

– Quem és tu? – exigiu ele saber. – Como entraste aqui?

Não houve resposta, apenas uma respiração ofegante. Mary estava completamente aterrorizada, o aroma do seu medo era como fumo de madeira no nariz dele. Falou mais baixo.

– Não te vou fazer mal. Não pertences aqui e quero saber quem és. A garganta dela mexeu-se debaixo da mão dele, como se tentasse engolir.

– O meu nome… o meu nome é Mary. Estou aqui com uns amigos.

Rhage susteve a respiração. O seu coração falhou uma pulsação, abrandando.

– Repete o que disseste – sussurrou ele.

– O meu nome é Mary Luce. Sou amiga da Bella… Trouxemos um rapaz, o John Matthew. Fomos convidados.

Rhage estremeceu, uma fragância balsâmica emanou da sua pele. O tom musical da voz dela, o ritmo do seu discurso, o som das suas palavras, tudo o trespassou, acalmando-o, consolando-o. Prendendo-o docemente.

Fechou os olhos. – J.R.Ward “Na Sombra do Dragão

 

Uma das histórias de amor que mais me tocou… e, (claro!) já li umas quantas. A improbabilidade de acontecer, as diferenças insuperáveis, o destino incontornável, a bagagem de cada personagem que se transforma no muro que os separa… A minha história favorita dos livros de Ward.

Se é triste, temos de ler e chorar… ou quase. Se é amoroso, temos de provocar as borboletas no estômago. Se é assustador, temos de induzir medo e, por aí fora…

Não me digas para ter medo. Assusta-me. Não me informes que há amor. Faz-me senti-lo.

Faz sentido? Sim.

É difícil? Sim.

Mas vale a pena. É essa a diferença entre uma leitura que se abandona sem problemas e aquela que nos consome a alma… uma poderosa experiência emocional.

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