Podemos usar o que nos rodeia, se nos abstrairmos de quem somos, e apenas observarmos e sentirmos o sítio onde estamos.
Faz sentido?
Podemos usar na nossa Arte tudo aquilo que vemos sem julgar. Se nos abstrairmos do mosquito chato, das pessoas que nos olham de lado, de ser esquisito estar parado ali…
Usamos um pouco daquilo que aprendemos aqui, a viver o Agora. Aplicamos um bocado de tudo o que lemos por aí. Desligamos da ansiedade daqueles que passam por nós a correr em direcção ao que quer que seja que os puxa. Sempre sem tempo, ansiosos, infelizes.
Inspiro e sinto o cheiro a folhas verdes misturadas com gasóleo. Até nos sítios onde apenas cheira a podridão, encontro resquícios de outras coisas. Cheiros potentes de suor, ou fragâncias ricas e adoçicadas, mijo e bafio.
Olho para cima, e abóbodas espreitam, entre aglomerados de folhas que nunca param quietas. Ao fundo, o azul do céu salpicado de branco, é o enquadramento de uma paisagem que se parece com um quadro. Uma pintura que ganha vida a cada sopro de brisa.
Muito do que sou escapa-se da sua contenção forçada nesses momentos de luz. O som daquela guitarra, que ecoa pelos corredores de azulejo verde, faz o coração pular. Apetecia-me ficar ali. Cada passo, calmo ou apressado, incita-me a inspirar. Cada cheiro, ténue ou assoberbante, acicata-me a olhar. Cada vislumbre, em sombra ou iluminação, convida-me a parar, a apreciar. A Ver.
Cada bocado destes rouba um pedaço de agitação que não quero de volta. Desejo calma. Fechar os olhos. Inspirar. Abri-los para um mundo em que vale a pena viver. Para uma realidade fresca que é feita para saborear. Para tudo aquilo que os outros, sempre em pressa, recusam-se a observar. Sentem vergonha de parar e absorver.
Ando por aí de máquina de capturar em riste. Absorta em tudo o que me toca. Convertendo o que passo, naquilo que sou, e o que absorvo naquilo que entrego de volta ao mundo. Porque não escrevemos só para nós. Devolvemos ao mundo aquilo que somos, aperfeiçoado com o que trazemos dele.
Vai até ao banco de jardim. Inspira fundo. Esquece tudo o que é, foi, será. Observa. Deixa que o que pensas te guie. Não julgues. Aponta. Tira notas, fotos, registos mentais. Usa-o e devolve a quem to deu.
Esta é a dádiva de sair de nós mesmos e vermos o que os outros são, o que a natureza nos entrega, o que a mão humana constrói ou destrói. É tudo isso que nos inspira.
Mesmo que não saibas como começar. Mesmo que tenhas receio de parar. Mesmo que te sintas demasiado ansioso para fazer o que quer que seja.
Pára. Senta-te. Põe o telemóvel no bolso. Inspira fundo. Olha em redor. Se não sabes por onde começar, experimenta responder a isto: O que vês?
Pode não ser novo mas, o que vês é, também, a forma como Tu o vês. E, mais ninguém é como tu. Nenhum outro és tu. Só tu podes dizer o que tens a dizer. Mais ninguém pode ocupar o teu lugar nas histórias que tens para contar.
A tua forma de ser e de ver o mundo é única e nós precisamos dela. Porque ver a realidade pelos olhos dos outros ajuda-nos a encontrar paralelismos nas nossas vidas. Ajuda-nos a sentir que não estamos sós. Não somos aves assim tão raras apenas um pouco diferentes. Apenas um pouco mais receptivos a coisas mais artísticas. Apenas mais inspirados.
Experimenta e diz-me como correu. O que criaste. Em que pensaste. O que te inspirou a fazer.
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