Diário de Bordo: Abril de 2020

Diário de Bordo

Há quanto tempo não escrevo um destes? Não sei. Perdi-lhe a conta.

Mas, os Diários de Bordo são importantes. São os check-ins que preciso para ganhar perspectiva sobre o que tenho feito e, como isso, serve o meu Trabalho Criativo.

São, também, o cumprir de um compromisso que tenho para comigo e para com as pessoas que seguem este blog. Treze anos desta aventura, que nunca cessa de me espantar.

O que tenho a registar no meu Diário de Bordo?

Apesar de ter este artigo pronto a publicar, tenho de acrescentar nele, o meu pesar pela perda de Luís Sepúlveda, hoje, dia 16.04 do famigerado 2020. Mais uma baixa provocada pelo vírus que enfrentamos no momento. A literatura mundial perde um escritor notável e eu perco uma referência. RIP.

1. MUDANÇAS CRIATIVAS

Nos últimos meses, tenho sentido uma maior vontade de perseguir as artes que me enchem o coração, e o poço criativo (significado de poço criativo aqui…). Atribuo esta vontade acrescida a uma mudança de posição da minha secretária.

Pode parecer esquisito mas, há sítios onde a criatividade, simplesmente, não flui.

Tinha o sítio perfeito para a minha Mesa de Escrita: no canto do Sucesso tal como dita o Feng-Shui. Mas, a Escrita não fluía daí. Um dia, no final de Dezembro, olhei para ela e pensei: talvez se a rodasse e ficasse de frente para a janela.

Gosto do resultado final e, até novas mudanças (que nunca pareço ser capaz de evitar), fico aqui: no canto do Sucesso, de frente para a janela, com vista para o mundo.

vista sobre a cidade

Separar os meus espaços de trabalho é tarefa importante para mim. Nesta mesa da Escrita não há Pinturas ou Mixed-Media. Há escrita, livros, blocos de apontamentos, calendário, fotografias, objectos preciosos e imagens inspiradoras. Também estas coisas estão sempre em constante mudança. É o fluxo (flow) a funcionar.

Já a Mesa de Artes Manuais é um espaço que ocupa uma outra mesa…

all aboard
Tag de #The100DayProject

Felizmente, tenho mesas que cheguem para isto, mesmo não tendo uma mesa de jantar formal. Também, não é que possa patrocinar grandes jantares formais. Há que estabelecer prioridades e eu tenho as minhas Artes nessa lista bem curta. Os ocasionais convidados são íntimos da família e almoçam na cozinha.

E, sobre prioridades criativas deixo-vos aqui uma sugestão:

Um exercício criativo: faz uma lista das tuas prioridades de vida. Vê o que consta da lista e marca aquilo que nutres com regularidade, e aquilo que gostarias que fosse prioridade, mas que de facto, não o é. Pensa se, e como, podes mudar isso e ajustar a lista de prioridades àquilo que são, realmente, prioridades.

Acabei por pensar em mim como um tipo de girassol: sempre à procura do sítio onde a luz do sol incide de frente. Sempre à procura do local onde o Espaço é o melhor para a minha Arte.

Não foi a única mudança criativa neste período mas foi, sem qualquer dúvida, a que melhor operou os seus resultados em mim.

A outra grande (GIGANTE) mudança criativa foi-me entregue através do livro “The Artist’s Way”.

No início de 2019 (não. Não me enganei no ano!) comecei a ler “The Artist’s Way”. E, já podem ler a minha opinião aqui… Despreparada para o que isto significava parei algures entre a terceira e a quarta semana.

Um ano depois, no início de 2020, este ano que tanto me enganou (estou bastante cansadinha de ti, 2020) voltei ao início do “The Artist’s Way”. Doze, ou umas catorze semanas depois, vejo em mim os resultados práticos de um verdadeiro curso de desbloqueio de criatividade, reflexão, e auto-análise dispensada em barda.

notebook
Algumas páginas de notas pessoaiss

Para todos os que padecem de bloqueios criativos e, em certa medida, todos padecemos deles de forma mais ou menos constante, recomendo esta leitura/prática. Se o fizerem com seriedade, garanto-vos que nunca mais serão os mesmos.

Assim, e com a ajuda preciosa de “The Artist’s Way”, vi regressar tantas coisas criativas que julgara perdidas para sempre. E, acho que para mim esta é mesmo a parte melhor.

2. O BLOG

Comecei 2020 cheia de boas intenções. Tinha um plano. Sabia por onde queria ir e queria publicar todas as semanas. Tinha os treze anos de blogueversário para celebrar  e… a Vida acontece.

começar

Com as notícias de pandemia ali mesmo ao virar da esquina, não houve plano que subsistisse.

Tenho um respeito saudável por bactérias, contaminação cruzada, e contágios disseminados. Se calhar, não tão saudável assim… talvez um fervor meio obssessivo-compulsivo. Mas, por Vírus, tenho um temor que se repercute por cada célula do meu Ser Criativo. Podem ler mais sobre isto, bem disfarçado de “sou sensível e não perdi a cabeça ainda” aqui… Respira.

No dia 27 de Fevereiro confirma-se a primeira ameaça bem perto e, no dia 28, damos início ao período de isolamento social, por escolha própria… apesar da orientação social continuar a ser para manter as escolas abertas facto que, hoje, ainda me surpreende… Pensei que já nos tinham dado como baixas sacrificáveis para manter a Economia. Afinal, o que era uma taxa de mortalidade tão baixa em comparação com o vírus da gripe?!

É com orgulho nas escolhas dos líderes do meu país que afirmo que, tal não foi o caso, e que estamos sob a orientação de pessoas que, de facto, respeitam a Vida Humana. E, este é o maior ELOGIO que posso fazer a um Governo. Não quero imaginar se tivéssemos qualquer outra conjuntura política no poder. Seríamos outra Espanha na escala da calamidade social.

Hoje, dia 14.04.2020 continuamos em isolamento social. Salvo as raras excepções em que é preciso comprar comida e medicamentos, em que me desloco totalmente equipada dentro dos meus limites de rigor (álcool, luvas, máscara, apenas roupa essencial e lavável, nada de adornos ou extras na minha pessoa, cabelo apanhado e coberto, e fidelização de sapatos e casaco para todas as saídas, e zona de descontaminação com lixívia à entrada da porta onde nada entra sem ser descontaminado com 100ml lixívia por 500 ml de água – e fica registado em foto para se rirem um bocadinho, se possível, ), é que me apanham fora da minha porta.

ida ao supermercado
Outfit obrigatório para sair de casa

E, SÓ saio daqui porque não há opções de entrega confiáveis. Bem que tentei mas, estamos anos-luz de serviços de entrega ao domicílio que funcionem durante uma pandemia. Fraldas são bens essenciais, sim?! Substituam o produto mas não deixem de o trazer… ou, bróculos…

O blog, assim como as minhas rotinas criativas, sofreram a adaptação aos tempos que vivemos. Uma delas, o desrespeitar do Calendário de Publicação de artigos. Sei lá se chego a quinta-feira que vem às 3 das tarde… Não vou esperar.

Nestes tempos de tantas lutas pessoais, e como é meu costume, escrevo o que me vai no Coração. Aqui, não posso deixar de referir a piada cósmica do que, espero ser, do ano todo: uma inflamação nas gengivas, com febre e problemas gástricos, acabou por me levar às urgências de um hospital, onde acabei na ala do Covid-19, a sofrer a temida zaragatoa, por precaução. Um exame horrível. Resultado negativo (como se esperava). Um valente suspiro de alívio, porque com estes meninos (vírus) nunca se está descansada. E, fiquei com mais uma experiência para contar.

Olhando para o blog, do início do ano, parece que todos os artigos pré-Covid-19 ficaram tingidos com aquele brilho da inocência de quem não sabia o que se avizinhava. Uma tontice que, decerto, me vai passar.

Também experimentei a ansiedade de, ao ver duas pessoas abraçarem-se num filme, começar a hiperventilar porque estão todos demasiado perto uns dos outros, e isso não pode ser. Ou, o sentimento de agorafobia que está ali na esquina, à espreita, e que me persegue cada vez que sou obrigada a sair à rua.

Tudo passa. Isto também vai passar. E, logo lidarei com o que restar…

vamos ficar bem

3. OS LIVROS

Hummmm… Tenho uns livros gostosos para partilhar:

“The Artist’s Way”, de Julia Cameron, claro! O livro/curso que já falei acima.

“A Room of One’s Own” de Virginia Woolf, é outro livro que não me sai da cabeça, e que permanece agora na minha biblioteca de Recursos do Escritor.

A Room of One's Own
Uma edição lindíssima

Este ano estipulei um limite mínimo de 20 livros no desafio do Goodreads. Têm sido uns anos complicados para atingir os números que, em tempos, foram “normais” para mim. Agora, prefiro não sobrestimar a minha disponibilidade mental para a leitura. Para mim, como mais uma vez provei, tempos de dificuldades não são bons cenários para a proliferação da leitura. Não consigo concentrar-me e desligar da realidade.

Continuo a dar forte e feio na literatura infantil. Isto de se ser Mãe também tem vantagens literárias. Sou uma apaixonada dos “Cuquedos”, e das ilustrações do Paulo Galindro. Descobri um “Chiu! Temos um plano” tão adequado a adultos. E, neste momento, fazemos progressos no “Versos de Fazer Ó-Ó” de José Jorge Letria.

Mas, a nossa biblioteca infantil começa a escassear. Todos os dias, ela pede uma nova história divertida e, já só sobram os livros para mais crescidos. Avizinham-se repetições e complicações…

Aceitamos doações de livros infantis 😀 Aceitamos doações ponto final

4. DESAFIOS CRIATIVOS

Os desafios de “The Artist’s Way” mantiveram-me ocupada com uma panóplia de exercícios criativos. Desafiei-me de forma muito objectiva na minha Escrita e tenho mantido uma prática criativa diária. Tenho feito o que preciso para manter a minha Vela acesa.

Usando uma das minhas metáforas favoritas: não preciso ser a lâmpada mais acesa do candeeiro, desde que me lembre de acender a luz.

arco-íris
Arco-íris portátil

Este ano não encaixei o April’s Love, um dos desafios de fotografia que costumo fazer (aqui…), inspirado nos motes de Susannah Conway. A versão home edition está com muito bom ar, mas optei por ficar de fora, porque estou concentrada noutro desafio. Colocar muitas coisas de output criativo no meu prato, sem o input que preciso para encher o poço criativo, tem por hábito não gerar experiências felizes.

No dia 7 de Abril, demos início ao #The100DayProject (podem ler tudo sobre isto aqui...) um projecto artístico, grátis e online, que ocorre todos os anos. A cada Primavera milhares de pessoas do mundo todo comprometem-se com 100 dias de exploração da sua criatividade. E, eu sou uma delas.

Este ano estou a criar/embelezar/decorar etiquetas de produtos (tags) que fui adquirindo ao longo do ano passado. Podem vê-las aqui… assim como um vídeo do processo de criação de uma delas. O vídeo em si também foi uma novidade criativa. Há muito tempo que me debato com a necessidade do Vídeo como ferramenta criativa. E, já podem vê-lo no YouTube também.

E, deixo-vos a mostra de todas as Tags até hoje, que também podem ver no YouTube.

No ano passado não tive grande sucesso neste exercício criativo. Posso afirmar que o insucesso de 2019 proporcionou-me o empenho, e o planeamento, para este desafio em 2020. De lá para cá, formulei melhor a coisa e estou a fazer uso do mês das artes plásticas cá em casa.

Abril, por tradição de Aniversário da miúda, proporciona sempre uma festa temática que adoro imaginar e materializar. Este ano, o confinamento proporciona uma tela mais limitada para o tema que ela escolheu. Por outro lado, posso dedicar-me com maior afinco a projectos mais minuciosos, uma vez que só preciso planear uma festa a três. Depois partilho fotos de projectos terminados.

casa da vampirina
Centenas de tijolos

Estou empenhada nesta tarefa, como é meu costume, desde que ela nasceu. Não há sentimento melhor do que ver a felicidade estampada no rosto do nosso rebento. Mas, ainda tenho muito para fazer e o tempo já escasseia. E, lá vou eu, inclinada para o sprint final…

Outro Desafio Criativo, totalmente autónomo do mundo está a decorrer aqui em casa. Aliado às aulas online da menina, uma vez que começou o 3º Período, comecei a explorar outras técnicas de criar Artes Plásticas. Da lista de coisas consideradas Arte Plástica continuo a testar, e a agregar, aquelas que servem a criação de adereços, máscaras e bonecadas afins.

Todas as Artes servem o propósito criativo de encher o poço. E, deixo-vos um artigo do início do ano sobre isto, que podem ler aqui…

Afinal, as aulas online para meninos de 3-4 anos de idade são a autorização artística que alguns de nós precisam para brincar com arte. Ontem voltámos à plasticina, hoje serão colagens e amanhã pintura. E, a seguir, é o que vier.

Felizmente, guardei cartão, tintas, cola e caixas de ovos com fartura para entreter o rebento cá em casa. Vá! Eu ando sempre a comprar materiais novos e diferentes para experimentarmos as duas… E, ela faz-me a vontade de alinhar de vez em quando 😀

E, para quem está fechado em casa, este Diário de Bordo está bem composto. Não prometo artigos futuros em dias pré-estipulados. Prometo, sim, que ando por aqui a ler/responder a comentários e, a partilhar convosco mais esta fase da Vida Criativa, aqui no meu Estúdio improvisado.

E, por aí? O que têm feito para preencher os vossos dias?

Agradeço, de Coração, a vossa atenção e Até Breve!

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