Escrever Ficção Honesta e Falhar Objectivos

escrever ficção honesta

Olá a todos. Sejam bem-vindos a este Recursos do Escritor.

 este artigo contém: formas de resolver um problema actual com a minha escrita; um ponto de situação no NaNoWriMo; estratégias de resolução; Ficção honesta; cair na Toca do Coelho e o Trabalho Sombra. 

Não sei se vos acontece, mas eu tenho um escape estúpido para quando me encontro a escrever uma história difícil.

Quando não sei para onde vou com aquilo. Quando sinto que não formulei como devia ser o tema, o propósito, ou os acontecimentos. Quando sinto que falta qualquer coisa na história e entro em modo-padrão:

Ir fazer tudo o que não envolva pensar na história.

Por vezes, a minha cabeça acaba por encontrar a resposta nesses momentos em que estou concentrada numa outra actividade.

Algo que me aconteceu, há uns dias, com uma ligação entre o passado de uma personagem, e os acontecimentos deste livro (The Shapeshifters 2). Estava em modo maratona de videos de YouTube acompanhado de journaling quando me ocorreu que talvez uma certa ligação fosse possível, e interessante.

Outras vezes, sinto apenas que estou a fazer qualquer outra coisa, que não seja escrever para este projecto. Sinto que, qualquer outra actividade criativa serve: desenhar, fotografar, ouvir música, pintar mobília, limpar a despensa…

edifício em Belém
… pintar más aguarelas…

Sim, eu sei que muitos escritores aconselham este método para resolverem os impasses criativos nos seus projectos. Não as más aguarelas, mas ir fazer qualquer outra coisa nos entretantos… Uma caminhada acompanhada por um gravador resolvem algumas dúvidas. Esquecer o problema, enquanto se dedicam a uma outra actividade e, entretanto, a magia acaba por trazer a solução que procurávamos porque continuamos a trabalhar no projecto, mesmo se na sombra da nossa consciência criativa.

Reconheço que, o meu problema específico é deixar-me cair na Toca do Coelho.

Resisto ao trabalho perante mim. Não procuro soluções práticas, não procuro agir, não estou a pensar de forma consciente no problema (por onde quero levar a história).

Dizem que aprendemos mais com os falhanços do que com as vitórias.

BRZRKR
Novela Gráfica BRZRKR de Keanu Reeves (Writer), Matt Kindt (Writer), Ron Garney (Illustrator), Bill Crabtree (Colorist), Clem Robins (Letterer), Rafael Grampá (Cover)

Gosto muito de aprender, confere. Mas gostaria de alternar entre uma actividade e a outra.

Este ano, conto o NaNoWriMo como um falhanço (mas, não conto este livro como um falhanço).

Pelo menos, no sentido da contagem de palavras. Passei as 25 000, e fico pela metade do objectivo (do NaNoWriMo: 50 000). No entanto, sinto que descobri algo importante sobre estas personagens e as suas histórias.

Mesmo assim, não me livro da sensação que não estou a ver algo óbvio. Algo que esta história precisa, e que está mesmo ali, no limiar da minha consciência.

É por isso que continuo em modo shadow work? À procura da resposta em todas as outras actividades que me surgem, menos na escrita deste projecto específico?

back to work
No ano passado estava melhor…

Não sei. Neste momento, não possuo uma resposta para mim, ou para vós.

Apenas tenho dúvidas, hipóteses, influências e esperança. Esperança que, mais uma vez, serei capaz de resolver este problema. Relembrando-me que, por vezes tenho de recorrer a outras artes, e actividades criativas, para descobrir as soluções para o que me acomete.

Agarrar um bloco de notas, e um café com leite, e sentar-me sozinha algures, é uma opção.

Outra, é ler qualquer coisa distinta, como uma revista ou um livro não ficção, por exemplo.

Dentro daquela ideia que ouvi de Neil Gaiman, há uns dias atrás: Ficção tem de ser tão honesta quanto possível.

O que significa, entre outras coisas, não inventar fantasias mirabolantes sem sentimento. O que irei escrever tem de estar de acordo com quem eu sou. Ser honesta com os sentimentos que reconheço. Escrever a verdade sobre a experiência humana… porque, o que escrevo inspira-se sempre nos sentimentos reais que vejo, vivo, e reconheço nos outros.

Talvez, neste momento, esteja fora do meu alcance resolver certas questões em particular. O que não significa que deixarei de procurar O Caminho para este projecto. Nem para qualquer outro que se siga.

Continuo. Devagar. Tal como se esculpe uma peça, se pinta uma aguarela, se cria um boneco de trapos… Devagar, com cuidado, medindo os nossos movimentos e aparecendo para criar pelo tempo que for necessário.

Obrigada e Até Breve!

Referências:

4 comentários em “Escrever Ficção Honesta e Falhar Objectivos”

  1. Olá!
    Acerca do “Ir fazer tudo o que não envolva pensar na história.”
    Também faço isso. Não sei se sabes disto, mas basicamente é a técnica do Einstein. Não sei se foi ele que a criou (certamente não foi), mas foi com ele que aprendi. É famosa a história em que ele tinha um problema para resolver e depois de a tentar resolver a todo o custo, durante dias a fio, “abandonou” a coisa. Alguns dias mais tarde, ia na rua e de repente a solução ocorreu-lhe.
    Presumo que o facto de deixarmos de pensar activamente no “problema”, faço como que o mesmo fique a correr no subconsciente, essa fonte de conhecimento tão mais poderosa.
    O mês passado, ao escrever o capítulo final do meu livro, eu inventei uma nova intriga… E pronto, arranjei um novo problema, pois depois seria obrigado a alterar algo num capítulo anterior. Foi caótico. Então, usei a mesma solução. “Bah, que se lixe isto, vamos continuar a escrever e isto ficará para o fim”. E, claro, resolvi. Quando eu menos esperava, a solução surgiu-me como por magia e fora da escrita. Eu estava numa conversa não relacionada, com um amigo, e de repente uma luz invadiu-me. ahahah. E, claro, muitas vezes a solução passa por fazer outras coisas das quais gostamos.
    Quero só comentar mais uma coisa que disseste:
    “Este ano, conto o NaNoWriMo como um falhanço” – Nah, nada disso. Falhanço é se nem uma frase tivesses escrito. Essas mais de 25 000 trarão os seus frutos quando menos esperares…

    Continuação de boa escrita!
    xxx

    1. Olá, Cláudio.
      Concordo contigo, “muitas vezes a solução passa por fazer outras coisas das quais gostamos.”, também sinto que tudo isto me acontece… só não posso ficar muito distraída com as “outras coisas” ou demoro horrores a voltar ao projecto em questão 😀
      Falhanço, sim. No sentido de não completei o objectivo temporal para as 50 000. Contudo, estas 25 000 fazem já parte do rascunho zero. E estas ninguém mas tira! Nem eu própria 😀

      Obrigada pelo comentário e Boa sorte para os teus escritos, também.

      Até Breve!

      1. Eu entendo o “falhanço”, mas… não gosto da palavra, ehehe. O cérebro é muito picuinhas para arriscarmos alimentá-lo com o palavras negativas… mas claro que percebi – falhaste objectivo.
        Até breve!
        Ps – Agora ando na fase de fazer a capa. Parece-me mais difícil do que escrever um livro. 😀

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