Abstra(c)to – Um documentário para o Artista que há em ti

Abstracto

“Sometimes, you read a book and it fills you with this weird evangelical zeal, and you become convinced that the shattered world will never be put back together unless and until all living humans read the book.”  – “Por vezes, lemos um livro que nos enche de um estranho e fervoroso zelo religioso, e convencemo-nos que o mundo destruído nunca se irá recompor, a menos que todos os humanos o leiam. (trad. livre) John Green, ‘The Fault in Our Stars’

Por vezes, é um documentário que provoca esta sensação. Ou um desenho. Uma escultura. Algo… A coisa que é, em si mesma, aquilo que procuramos recriar.

No caso refiro-me ao documentário: Abstrato – A Arte do Design – Um original Netflix. Primeiro episódio, da primeira série, sobre Christoph Niemann.

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Podem ver o Trailer aqui…

Christoph Niemann, conhecem? Eu não conhecia mas, parece que, há muito tempo que admiro o seu trabalho… sem saber, sequer, quem era.

Ora, revi-me na sua abordagem à prática criativa e partilho muitas das suas perspectivas sobre a criação de arte. O que nos ajuda como artistas? Onde vamos buscar inspiração? O que significa a prática no trabalho criativo? Como descobrimos a dinâmica cultural que vivemos em cada espaço-projecto?

Senti um misto entre, rever-me nas suas lutas criativas, e desejar que todos os que me lêem tenham acesso a este documentário. Lá está! o tal “estranho e fervoroso zelo religioso”.

Durante este episódio, Niemann foca alguns conceitos que, para mim, sempre fizeram sentido:

Como retirar aquilo que não é essencial à obra para que a nossa ideia chegue ao receptor?

Para ele, este cortar de extras faz-se em imagem/desenho, para mim, em palavras extra. Aquelas pequeninas, que não contribuem em nada para o texto, excepto encher a página. É no processo de revisão da escrita em que aperfeiçoamos a ideia e fazemos a mensagem passar.

Cada ideia possui um conjunto de informação que a acompanha. Ninguém pensa numa garrafa de coca-cola, por exemplo, sem pensar na cor do rótulo, num anúncio de televisão, cena de filme (como aquele passado em África), ou gosto característico da bebida.

Essa é a informação com que trabalhamos ao escolher usar a coca-cola na nossa arte. Seja essa arte qual for. Aquilo que conhecemos sobre a bebida irá ser usado na obra.

Durante este documentário acompanhamos o seu processo criativo, com o qual me identifiquei (e desejei), observando-o construir ideias com base em coisas tão simples como Legos.

A representação usada para a construção de uma Família é brilhante e não me parece que a esqueça tão cedo…

Fala sobre processos criativos e sobre como cada processo tem de ter uma estrutura. Procedimentos de trabalho que nos possibilitem criar. Sentar-nos num café a ver a vida a passar pode ser inspirador. Mas tentar trabalhar na nossa obra, rodeados de distracções, não funciona.

Para mim, também não funciona, por isso, compreendo.

Apesar de ser necessário escrever com outrem em mente (ler mais aqui sobre o que nos impele a continuar), sinto necessidade de ter um espaço e um tempo reservado para a minha obra. Sem gritos, distracções. Por vezes, até, sem a presença de outras pessoas (com uma criancinha de dois anos a correr pela casa tem funcionado muito bem…)

É preciso aparecer no local de trabalho. É preciso aparecer no espaço onde criamos a nossa arte. Sem desculpas. E, dar a hipótese de algo acontecer. Se não libertarmos aquele tempo e espaço para criar, nunca faremos nada. É preciso tomar decisões e ver onde elas nos levam. E, ter um processo ajuda a criar.

Quando tudo corre bem é preciso inovar. Mudar de direcção. Ir em busca de coisas novas, de inspiração. É preciso reabastecer o depósito criativo para que não seque de vez. É preciso descansar e descontrair para que o fluxo continue a fluir.

Mas, Niemann acredita que é a rotina e a vida diária que inspiram o trabalho. Concordo em absoluto.

As ideias provêm das nossas experiências pessoais, daquilo que vivemos, do que sentimos quando viajamos para o mesmo sítio todos os dias. O que saboreamos quando nos sentamos a comer. O que imaginamos e extrapolamos quando sujeitos à vida diária.

Nunca podemos adivinhar o que irá tocar o espectador. Quem lê quer rever-se nas situações que criámos. Quer olhar para uma imagem, e ficar deslumbrado, porque há mais alguém no planeta a quem Aquilo acontece. Ou seja, ele cria imagens que fazem algo com aquilo que o espectador já conhece. Quando a experiência pessoal do artista se junta à do espectador, cria-se o gatilho, o que despoleta a identificação do espectador com a obra. E, é essa a magia.

Não criamos num mundo artificial. Pegamos naquilo que conhecemos e partimo-lo em bocados, mais pequenos, e rearranjamo-los para fazer uma afirmação. Escolhemos aqueles bocados da realidade e usamo-los para produzir magia. Contribuímos com um novo ângulo neste mundo que está em constante mudança.

Precisamos Ser Editores do nosso trabalho. Saber o que resulta e para onde a obra vai. Não apenas Ser Artista, criativo e descontraído. É o conjunto das duas (criativo e processo) que nos desperta para a obra que vamos criar.

É preciso estabelecer tempos para criar, para pesquisar, sem restrições de prazo ou propósito. É o alimento da parte criativa. E, é o próprio Niemann que o diz (e quem sou eu para discordar), que duvida ser capaz de criar por encomenda.

Afinal, cada boa ideia faz com que a próxima seja mais difícil. E, num processo de encomenda, assume-se que o cliente pretende uma superação do trabalho anterior.

Há o constante medo de não se ser bom o suficiente, ou de não se ter Uma ideia. E, isso é doloroso, pois comparamos sempre o nosso trabalho futuro com o anterior. Medimo-lo em comparação com um momento de génio, em que temos uma ideia, e que resultou.

Pelo meio das suas histórias, vamos (re)conhecendo algumas ilustrações, vendo práticas e processos criativos, relacionando-nos com um modo de vida que é tão exuberante como banal. Acima de tudo, penso que vemos noutrém aquilo que gostaríamos, almejamos, ou temos em parte, ou na totalidade.

Algures pelo fim do filme surje “O Design celebra o Mundo.”

Eu diria que A Arte celebra o Mundo e o Trabalho é a celebração do Artista. Click To Tweet

Espreitem este documentário, se tiverem oportunidade. O primeiro episódio deslumbrou-me, mas cada um deles representa uma forma de viver o Mundo e de nos trazer mais e melhores conhecimentos sobre as mais diversas facetas do Design e dos seus Artistas.

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